Historic Rallye - The most essential item of equipment is a sense of humour!

30.9.13

Mil histórias das Mil milhas portuguesas!

Well... o carro designado pelo comandante José Romão para minha pessoa era um Aston Martin DB6... quando ele foi me buscar em Lisboa com seu Bentley Continental Speed com mais de 600 cavalos, me deu a notícia triste - o câmbio automático havia quebrado... uma lástima, but... eu iria com outro carro dele - um Corvette C1 1960. Ótimo - fiquei animado. Enquanto o carro não vinha, ficamos (eu e meu filho Fábio - co-driver chamado de carona ou pendura na terrinha), hospedados na bela casa (no monte) do Alentejo do amigo Zé e Milu. Neste primeiro dia recebemos a visita do Pedro que veio de Triumph TR2... Umas das primeiras observações que ele exarou para mim foi que o Brasil parecia a África (!?)... Nos dois dias seguintes, o comandante José Romão, experiente ralizeiro que conheci na campanha do Pequim-Paris (só este rallye ele e a incansável Maria - Milu sua mulher - fizeram 2 vezes, assim como já fizeram o Trans-América, o Safari, o South America Challenger, o Tiger além... é claro... as nossas 1000 Milhas Históricas), nos levou para conhecer toda a região.
Ok.... o Corvette veio na noite, um dia antes do início do evento - juntamente com um Aston Martin DB2. O carro funcionou legal sobre o caminhão e foi colocado na garagem. No dia seguinte, nos preparamos para viajar à Lisboa... abaixa-se a capota, tira o pó e... nada do carro pegar (partir). Retiramos ele da garagem com ajuda do um Land Rover Série II. Andei em segunda e em terceira com o Land me puxando e nada do Corvette... Foi providenciado um caminhão e lá fui eu na cabine com o Corvette me seguindo... a certa altura o motorista do caminhão-plataforma me pergunta: "Posso tirar uma bufa"? Eu sem entender muito bem, disse: claro... ele se inclinou para o lado da janela e virando a parte de baixo do seu corpo para o meu lado - peidou... simples... ele soltou um enorme pum... mas foi uma bufa daquelas... ele explicou que comeu um ensopado que lhe fez mal a noite passada... com a minha licença ele durante a viagem peidou ou tirou uma bufa forte mais duas vezes...
Ao chegarmos no pátio do hotel (onde estava sendo realizado a vistoria e apresentação dos documentos), deixamos o carro para ser examinado pela dupla de pai e filho mecânicos: António Luís "Mitó Pai" e António Luís "Mitó filho". Depois de espancarmos o carburador a bóia desencantou e ... pronto... colocou-se a funcionar. Me apresentei e ... uma certa indiferença notou-se... me deram a jaqueta do evento tamanho M? Como? Eu venci a anorexia - sou gordo. Pedi uma XXX e me falaram que deveria ficar contente com aquela, pois, as XXX já tinham sido distribuídas para os competidores locais - retirando a M das minhas mãos (no final do evento o fidalgo Miguel Côrte-Real conseguiu uma para mim e outra para o Zé Romão... um gentil homem com certeza).
Antes da partida logo cedo, coloquei gasolina na Corvette (que deveria fazer uns 5 a 3 km com um litro) e estava pronto para a largada. Antes da partida coloquei minhas luvas vermelhas de couro - que gerou o seguinte comentário: "luvas gira - paneleiro!" ao que respondi: "Não advogado!" Pensei que ele estava se referindo à profissão (paneleiro), mas paneleiro é bicha (gay)... foi uma brincadeira... e.... o que quer dizer bicha? Bom com as novelas brasileiras o povo português já chama bicha de fila... ou seja se te falarem para ficar no rabo da bicha para pegar o cacete, quer dizer ficar no final (rabo) da fila (bicha) para pegar o pão francês (cacete).
A dificuldade da língua não para ai.... ouvi coisas inacreditáveis: Não se fala mais "está lá" ao invés de alô ao telefone, mas sim ou "Tôsim". Trem é a nossa charrete, e o nosso trem para eles é comboio. Ardina descobri que era em algumas localidades jornaleiro; arrecadação é a despensa da casa; atacador é o cadarço do tênis; atendedor automático é a secretária eletrônica; autocarro é o nosso ônibus; autoclismo é descarga (válvula hidra); autogolo é gol contra; banheiro é salva-vidas (e o nosso banheiro é casa de banho) - aliás, o nosso bidê para eles é o criado mudo (aliás, eles não entendem porque criado mudo, e na verdade nem eu); beneficiação é estrada em obras; bestial é maravilhoso, assim como divinal (eu já adotei os dois termos); bica é cafezinho; o RG é BI - bilhete de identidade; Boceta de Pandora é caixa de Pandora (aquilo que você está pensando chama-se cona e também pode ser uma crica - aliás crica acho eu, que pode ser uma pipi, que quer dizer xoxotinha); estar a brocha é estar aflito; borrego é carneirinho; breque é peido e travão é breque; broche é sexo oral; camisola é camisa; capachinho é peruca; do caraça é o nosso do cara...; castigo máximo é pênalti; charcutaria é uma mercearia fina; chiça é uma expressão de espanto, como doeu ou puxa; chui é o nosso tira (policial); conservatório é repartição pública; coscuvilhar é fofocar; pica no cú meus caros, é injeção na bunda (a palavra bunda não existe - existe o cú - e como se chama o anus? fácil: olho do cú); cueca é calcinha de mulher; demasia é troco; desanimar é broxar; do pé para a mão é de uma hora para outra; em alguns lugares que passei, drogaria é uma espécie de armarinho; durex é camisinha; engatar é cantar uma garota; esférico é a bola de futebol; alguns dentistas são chamados de estomatologistas; fato de banho é maiô, etc.; pedaços de carne de porco é febra; fiambre é presunto já o presunto para eles é o tipo cru; ficha é tomada; grelha é a programação da tv e grelo é uma verdura (perguntaram para o meu filho: quer sopa de grelos e ele aceitou com receio...); estar com história é mestruação; hospedeira é aeromoça; invisual é cego; mala é bolsa de mulher; manguito é o gesto internacional de dar uma banana; maple é sofá; marcha atrás é marcha à ré; matrícula é a chapa do carro; mulher a dias é diarista; pão ralado é farinha de rosca; pastilhas elásticas é goma de mascar; peão é pedestre; pêga é prostituta; penca é nariz grande; pessoa coletiva é pessoa jurídica (sim... pessoa física lá é pessoa singular); picas é o cobrador do comboio; e pila que aqui é dinheiro lá é o pinto (órgão sexual de alguns homens); a expressão boa como o milho, é usada para uma mulher diria... tesuda... (meu filho usava para tudo: lhe perguntavam: como está a comida, e ele respondia: boa como um milho... ouvi também a expressão ponta, que quer dizer estar com tesão); punheta de bacalhau é o dito desfiado; puto é quase adolescente; dar uma queca é dar uma trepada, não confundir com queque que é um bolo muito gostoso; quinta numa região é o sítio nosso, sitio para eles é lugar (em alguns locais quinta é monte); retrete é o vaso sanitário; salsicha é a nossa linguiça; tampão é calota de carro; estou nas tintas quer dizer não estou nem ai; tira-cápsulas é abridor; travão é nosso breque; trepador em algumas regiões é ciclista; troço em obras é trecho em obras... e assim vai....
Ao invés de carimbo em cartão de controle de passagem, havia perguntas sobre determinado local que vc passava. Até ai tudo bem, contudo, para nós e para um francês algumas palavras não entendíamos - o resultado foi copiar dos outros. Uma senhora participante negou tal prática ilegal, falando que era nossa obrigação saber o português... tudo bem. Colamos de outros, porque, realmente não sabíamos o que queria dizer determinadas palavras.
Ainda na questão do vernáculo - ao passarmos por algumas cidades ouvíamos dos transeuntes: giro... eu pensava que era para acelerar a Corvette porque estávamos com um carro com motor potente - dai eu acelerava várias vezes o motor da Corvette quando ouvia é giro - isso foi até o segundo dia e depois de encher várias vezes o tanque daquele barco (dentro da Corvette não se fala esquerda ou direita, fala-se bombordo ou estibordo - aquilo é um barco - tinha o mesmo motor que o ferry que pegamos - o porta-malas ficava na popa e o motor na proa). Descobri que giro é legal, lindo, etc.
No primeiro dia nos perdemos porque numa determinada estrada estava escrito em frente para Setúbal - havia uma placa com indicação seguindo reto para Setúbal e a direita para Setúbal - claro que em Portugal em frente é a direita... dai... nos perdemos (mas ninguém foi nos buscar... quando eu estava no carro do diretor de prova Pedro, ele voltava para buscar os locais perdidos, dizendo que não poderia perder a freguesia... me senti assim meio desolado, como se sentiu - acho eu - o presidente do Banco do Brasil, quando o D. João retirou todo o dinheiro lá depositado, para voltar em definitivo para Portugal). A partir dai começamos a seguir os competidores locais - um erro mas... começamos a seguir alguns que se perdiam com facilidade (o road book havia muitos erros, não tinha tulipas e nos mapas sequer havia a rodovia indicada - ela vinha pintada...)... depois de alguns dias resolvi seguir um dos diretores da prova - Miguel Côrte-Real (passei 3x na frente de uma mesma vinícola - portanto, não deu certo)!!! Depois, segui outro diretor que havia feito o levantamento - Pedro Vilas Boas (nos perdemos várias vezes). Quando estava sem carro, peguei carona no Jaguar do Pedro - eu ia seguindo o Road Book, que é feito sem o sistema de tulipas... tinha um outro livro com mapas e fotos aéreas, somente reconhecidas se vc estivesse a bordo de um avião. Na subida do Caramulo eu lhe falei - segue em frente. Ele parou pegou o road book - leu - não sentiu segurança no próprio road book e mais a frente perguntou a um local: onde ficava o Caramulo - o habitante local falou: vc está nele é só seguir em frente e chega no hotel!!! Ou seja - depois de uma pesquisa, resolvi seguir um trio formado por Antero Brochado de Magalhães e Elisabete (Bete) Carvalho num Jaguar Type E S1 OTS de 64; Manuel Enes e Alexandra Pombo num Porsche 356 SC Coupé de 64; e, Robert e Sharon Giannone, num outro e igual Jag E-Type esse de 65. Ai sim minha vida mudou - essas navegadoras, principalmente a Bete e a Alexandra sabiam interpretar aquele road book, mais do que aqueles que haviam levantado o caminho (agora meu filho já podia dormir no carro). Ufa... Aliás, formavam uma ótima companhia para nós.
Procuramos sentar nos almoços e nos jantares em diversas mesas, para conhecermos todos do grupo - sempre fomos bem recebidos - claro que em certas mesas não conseguimos fazer isso, porque havia lugares reservados (claro que notamos uma certa tensão entre Lisboa e Porto), mas havia uma participante que se recusava a sentar com fotógrafos e mecânicos - a dupla brasileira sentava com todos e nos divertimos muito - sem qualquer preconceito. Aliás, fotógrafo, piloto da moto, mecânicos e motorista do carro resgate são ótimas companhias e tinham histórias saborosas.
Um fato interessante, residia num casal que ocupava um Jaguar S 3.8 de 64- Miguel e Leonor Portela de Morais - todo lago ou rio que passavam ou que estavam perto do local onde iriamos almoçar, eles tiravam as roupas e entravam na água - não importava se estava limpa ou suja... eu achei ótimo... no melhor estilo Netuno/Sereia ou Esther Williams e Johnny Weissmuller. Realmente o calor estava senegalês. Ok... a primeira vez que vi o casal cair na água foi assim: estávamos na frente de um rio que corria pouco - tipo Tiete - ai eles colocaram o Jaguar entre arbustos, saíram com ou sem roupa (não consegui distinguir - uns afirmavam que estavam com fato de banho outros que não havia fato algum), e pularam na água - diziam: venham a água está ótima, está limpa aqui... Minha gente - como dizia uma das testemunhas - o rio dava para andar por cima dele... era preto como alcatrão!!! Que coragem... que dupla!!!
Ainda sobre quebras e batidas: A Corvette tinha algum problema grave na suspensão - o carro balançava mais do que um barco em mar bravio... tinha que tomar remédio para enjoo antes do dia começar... perdi os freios depois de uma serra (só fizemos basicamente serras e ultrapassamos as 10 mil curvas). Para frear tinha que bombar 2x antes... a embreagem foi ficando dura e quebrou de vez a 15km do nosso destino (antes de chegar a Marvão - uma cidade cercada por muros medievais e ruas estreitas - desliguei o carro, engatei uma terceira e liguei novamente... fui de terceira todo o trajeto, passei por portas em forma de arco medindo na largura igual a Corvette (mais uma mão de tinta riscava) - ruas minúsculas... quando cheguei consegui colocar no parque fechado... o duro mesmo foi que caminhão prancha não entrava ali, dai tive que descer e me arriscar novamente... a noite, sem freio ou embreagem... coisas que só acontece com carros clássicos - eu adoro. A Ferrari 330 GT 2+2 de 66 quebrou logo na saída; o Aston Martin DB2 FHC de 51 quebrou o câmbio no último dia; o Austin Healey 100/4 BN1 de 55 bateu na traseira do Triumph TR3A de 60 (neste não aconteceu quase nada - vide traseira direita, mas o Austin perdeu um farol, levando um apelido que dei de Camões). A BMW Isetta 300 de 59, aguentou bem todo o trajeto, somente parando a 21km da chegada (o carro reserva deles - do José e Dulce Lino era o meu MGB Roadster, que eles emprestaram com uma gentileza ímpar). O Porsche 356 SC de 64  do Dr. Manuel Enes - também não aguentou. Foi substituído por outro - agora conversível. O Triumph vermelho também quebrou, assim como a Alfa Romeo Giulia Spyder, mas foram logo reparados.
Outra coisa - posto de combustível ou bomba como lá é chamada, no interior de Portugal é coisa rara... quase fiquei sem gasolina com o petroleiro Corvette e acreditem, até mesmo com o MGB Roadster... (imaginem que a certa altura o próximo posto de combustível de onde estava, ficava na Espanha!!!). Há que se ressaltar a ótima recepção que tivemos do casal amigo Alexandre e Maria Calheiros Ferreira (Mercedes-Benz pagoda 220S - que já fizeram as 1000 Milhas Históricas brasileiras) - casal impecável. Fomos homenageados, ainda, no Porto com almoço na casa muito gostosa do Dr. José e Dulce Lino (com uma vista linda para o rio), assim como, fomos homenageados num jantar na casa do Dr. Manuel Enes e Alexandra Pombo (casa essa que me lembrou Ponderosa - do filme Bonanza - eles tinham uma casa similar em Virginia City - bordering Lake Tahoe). Mais uma vez quero agradecer ao convite do casal José e Maria Romão de Sousa. Fiquei viciado em pastel de Belém, água com gás da marca Pedras Salgadas (como a água é salgada vc sempre está tomando mais - uma bela jogada de marketing), e na rádio FM Smooth - que estou ouvindo agora... a melhor FM que já ouvi). Comi de quase tudo, menos bochechas de porco e sopas... engordei muuuuiiiito. Experimentem Portugal nas próximas 1000 Classic - vale a pena.

PS - Outras histórias são impublicáveis kkkkkkk
PS 2 - Aguardo filminhos dos amigos, para aqui postar

Luis Cezar

29.9.13

Mugello Classico - 2013

Exemplo de Raid.... Mugello Classico, realizado na Itália nos dias 14 e 15 de setembro... somente para carros italianos (claro, que os que não estavam de carros italianos, é porque estavam com o carro na oficina e pegaram outro).... belo plantel de carros. Raid bem organizado, onde todos aproveitam o passeio. Puro passeio, sem as travas de um rallye ou de um raid misto (esse último que quase ninguém faz). Um desfile de tons de vermelho. Fotos do Peter Collins.

Luis Cezar