(a piloto Mrs. Chetwynd e seu MG C-Type)
Este light sport roadster, teve uma produção de apenas 44 carros - de 1931 a 1932 - alcançava 100 milhas com 750cc! Belo carro... O C-Type como é conhecido (era conhecido, também, como Montlhéry Midget e muito menos como 8/95 Midget), influenciou sobremaneira o conceito MG de carros esportivos. A sua criação esportiva teve a participação efetiva do mítico Cecil Kimber! Os pais deste carro foram o EX-120 - o carro do recorde - e o M Type (uma mistura dos dois - chassis do EX e motor do M). O carro revolucionou na questão de chassis e de distribuição de peso, dando a esse low profile car, um exemplo de construção e de velocidade, para um motor de apenas 750cc.
Eu falei do EX-120 - carro de recorde (Class H) - que serviu de base para fazer o C-Type. Em dezembro de 1930 na França, no Autódromo de Montlhéry, o piloto Eyston, bate o recorde para as 750 cilindradas, atingindo 87.3mph. Depois em fevereiro de 1931, na mesma pista e com o mesmo piloto, fez 97.07mph e finalmente em fevereiro do mesmo ano (idem, idem), Eyston ultrapassa a marca das 100mph - mais exatamente 103.13mph (record-breaker). Eyston, repete o feito em Brooklands em março de 1931, atingindo 97.09mph e novamente em Montlhéry, em setembro daquele ano, atinge 101.1mph! Essa foi a "base" (promocional e técnica), para a construção do MG C-Type Midget.
Antes de falar dele e da sua trajetória esportiva, cabe mencionar que a fábrica (MG), mais precisamente o seu fundador - Cecil Kimber - queria um carro esportivo, tendo em vista o caráter competitivo do seu fundador. O fator negativo era a grande depressão que passava a colônia (EUA), no final dos anos 20 e no decorrer dos anos 30, e com uma grande depressão, também, na Europa continental e principalmente no Reino Unido (Europa entre-guerras). Vamos pensar juntos: os primeiros MGs (6 carros) foram produzidos entre 1923/24; depois vieram os 400 carros de 1924/26; depois os 900 carros de 1926/29 - mesmo no início da depressão vieram os 500 carros (mkI) e os 236 carros (mkII) de 1928/31 (o M-Type veio no final de 1928 e terminou nos meados de 1932 - foram feitos 3.235 unidades). A depressão atingiu mesmo o modelo 18/100 Six MKIII que foram feitas somente 5 unidades e o C-Type com 44 unidades, fabricados entre 1930 a 1932, apesar que o D-Type foi feito do final de 1931 aos meados de 1932 (250 unidades), e o F-Type Magna foi produzido do final de 1931 ao final de 1932 (1.250 unidades). Na depressão (antes do C-Type e em 1931), a MG reduziu a produção em 25%. O que eu quero falar, é que com o sucesso nas pistas do C-Type, foram vendidos mais de 2.000 carros em plena depressão (muitas montadoras quebraram nesse período no Reino Unido, outras foram compradas). Isso alavancou o sucesso dos modelos posteriores, como os Js, os Ks, os Ls, os PAs e PBs, os NAs e NEs, os KNs, os Qs, os Rs, os SAs, os TAs, os VAs, os WAs e os TBs (modelos fabricados até 1939 - todos da chamada era pré-guerra).
O modelo C não é assim um tipo de MG que eu goste (a minha preferência veio depois com os modelos J e o fabuloso K), mas foi de suma importância para a marca e para o conceito MG de carro esportivo. Aquela frente com a coifa defronte ao radiador, só era aplicada no inverno, pois, no meio do mês de fevereiro na França, quando colocado a teste de corrida/recorde em Montlhéry, foi necessário para não deixar "gelar" o carburador do compressor, além de dar uma melhorada na aerodinâmica do carro. Essa invenção veio das cabeças de Reg Jackson e os primos do Cecil. Muitas encomendas do C-Type na MG, tinham como tópico o compressor e esta coifa (cai entre nós - horrorosa). Tinha, também, o apelo do carro recorde que continha esse "nariz" na frente do radiador (que era imitado até nos pedal-cars).
As décadas de 1930 a 1935 são chamadas de Road & Track da MG - época com a fábrica comandada pelo Cecil Kimber e seus 4 primos e Sir Willian Morris. Depois de lançado no Motor Show de Olympia de 1928, do M-Type Midget de 847cc (e da venda de mais de 3.000 unidades deste modelo) - o sonho do Kimber era a participação no X12 hs de Brooklands (Double Twelve hs - Endurance Race). Cecil Kimber queria um carro para participar de competições, e assim poderia aumentar as vendas - se o carro fosse um sucesso nas pistas. Esse foi o início, na verdade, de uma saga de vitórias (com uma grande mão e esforço de Cecil Kimber e seu competitions departament de Abingdon). Surgia o C-Type! Originalmente foi designado como C-Type ou Montlhery Midget. O MG C-Type nas competições tinha como base o M-Type Midget, que foi a base do EX-120 pilotado pelo George Eyston, nas 24 horas, no Autódromo de Montlhéry em território francês. O motor vinha do Morris Minor de 1928 com o Wolseley 10 (M-Type com cilindrada menor), com um carburador simples SU. O carro não tinha portas, e tinha um slab type fuel tank. O final do cano do escape era em fishtail. O preço do carro era de £295, na versão normal e £345 com a instalação de um supercharged (em comparação ao Double Twelve Replica M-Type que custava £ 245). 6 meses depois, devido a depressão, os preços passaram de £490 e £575 respectivamente - com e sem supercharged - era um carro muito caro para a época. O carro utilizado no Montlhéry Record, participou de outros eventos, como carro do Works Team - no Double Twelve de 1931 em Brooklands, onde participaram 14 C-Types o resultado foi assombroso: do primeiro ao quinto lugar só deu MG C-Type (outra curiosidade: os ingleses só consideram a designação de Montlhéry estes 14 carros, descritos logo abaixo pelo número do chassis - esses carros foram na verdade construídos em 14 dias, para a primeira corrida que participaram - do início da produção até a corrida em Brooklands, foram 2 meses, contudo, a montagem efetiva destes carros ocorreu em 14 dias).
Era um carro de 746cc, com 4 cilindros, com a instalação de um compressor e para os carros de corrida (a maioria deles), na frente do radiador, ia uma espécie de coifa, para canalizar o o ar - tinha 2 tanques de combustível e duas bombas de gasolina (uma bomba Lucas já dá problemas, imaginem duas?!). A embreagem era seca, com uma novidade - caixa de câmbio de 4 marchas (uma curiosidade: o desenvolvimento deste motor serviu de base tanto para os 4 cilindros, assim como os de 6 cilindros, para os motores de corridas até 1936). Era um roadster, portanto, um carro para 2 lugares. Foi o sétimo modelo da MG, fabricado dos meados de 1931 a meados de 1932 (44 unidades). Foi na verdade o segundo modelo com tecnologia incorporada, vindo após do M-Type (que foram feitas 3.235 unidades - teve um modelo do M fantástico - o Double Twelve Replica - teve um M 18/100 racing model fantástico, pintado pela primeira vez nas cores de corrida da MG - cream with brown nudguards - utilizado depois no Cream Cracker Team. E depois, no 18/100 six MKIII, teve um lote de carros fantásticos da equipe The Tomato-Growers).
Cecil Kimber fotografando a criação
A depressão; a vontade de criar um carro esportivo e de corrida; e, para aproveitar uma ótima campanha de recorde com o EX-120, fez com que o projeto "C" fosse implementado de forma imediata. Muita imediata, por sinal!!! Depois de obter o recorde, o C-Type ficou pronto em 2 - repito - 2 meses. Na verdade Cecil queria inscrever o novo modelo na famosa prova Double Twelve Race. 14 carros ficaram prontos até a data do final da inscrição da prova, com 746cc que atingia 44bhp a 6.400rpm (era um motor desenvolvido a partir do M-Type e modificado pelo engenheiro H.N. Charles), com 4 marchas e corpo de alumínio (sem portas), com rabo de pato (ou boat-tail) - Oficialmente houve a versão MK I, II e em junho de 1932 o MKIII. Os jornais britânicos noticiaram: "never in the history of racing had so many cars been entered from one factory...".
Os primeiros 14 carros - que foram inscritos na prova noticiada, em Brooklands - foram divididos em 4 times (com dois carros isolados) - havia uma placa na ala da linha de montagem da MG até os anos 80, onde se fazia alusão a essa corrida: "one of the greatest one-make triumphs in the history of motor-racing" (era uma frase tirada da motoring press da época)! Cecil assim se referia a esse evento: "Fantastic first season". 1931 foi considerado por Cecil, seus primos e por Sir Morris, a remarkable year for M.G. - Em todos os livros pesquisados, há a seguinte frase: "an amazing feat that established M.G. as the world's leading sports car manufacturer".
Cecil e o campeão em Brooklands
Time March (cor verde - BRG - British Racing Green)
Chassis: CO251, pilotado por Earl of March e C. S. Staniland, # 60 (primeiro lugar* - com média de 65.62mph - percorrendo 1.574,9 milhas de distância)
Chassis: CO252, pilotado por Harold D. Parker e G. K. Cox, # 61 (quarto lugar*)
Chassis: CO253, pilotado por Norman Black e C.W. Fiennes, # 62 (quinto lugar*)
Time Gardner (cor - rodas vermelhas, corpo branco ou preto)
Chassis: CO254, pilotado por W.E. Humphryes e Ron Horton, # 71 (red)
Chassis: CO255, pilotado por Robin Jackson e Francis Samuelson, # 72 (white) (18 lugar)
Chassis: CO256, Major A.T.G. ("Goldie") Gardner e Murton Neale, # 73 (black)
Time Randall (cor - brown and cream) - Cecil Randall & W. Edmondson
Chassis: CO257, Gordon Hendy e T.V.G. Selby, # 63 (13 lugar)
Chassis: CO258, F.M. Montgomery e R. Hebeler, # 64
Chassis: CO259, Len Fell e Ron Gibson, # 65
Time - Team 4 (várias cores)
Chassis: CO260, Mrs. Chetwynd e Jameson, # 73 (alumínio polido e rodas vermelhas)
Chassis: CO263, H.H. Stisted e Kindell (empregado da MG), # 74 (corpo cream com rodas brown)
Chassis: CO264, Dan Higgin e Field, # 75 (corpo branco e preto, com rodas em vermelho)
Hugh ("Hammy") Hamilton pilotava sozinho sem co-drive o CO261, # 66 na cor azul (terceiro lugar) - era sponsored pela University Motors, onde trabalhava como vendedor (revendedora MG em Londres). Era piloto em 1922 da Talbolt, e em 1930 ficou em 9 lugar na Double Twelve, com um Riley. Aliás, era uma frase muito usada na época, entre os pilotos amadores: "Win on Sunday sell on Monday". J.H.P. Clover era para ele pilotar sozinho o CO262, #... na cor cream e para-lamas em marrom, but esse carro ficou no pit, para ser canibalizado, durante as 24 horas da corrida.
As referencias com (*) ganharam o Team Prize. Há que se lembrar, que nesta corrida havia Alfa-Romeo, Talbot, Lagonda, Lea-Francis, Frazer Nash, Aston Martin, Riley e Mercedes-Benz.
Afora essa primeira corrida em Brooklands em 1931, onde faturaram o 1, 2, 3, 4 e 5 lugar, além do Team Prize, outras se seguiram com sucesso no mesmo ano, tais como o 1, 2 e 3 lugar e o Team Prize, na Saorstat Cup Race - em 5 de julho - em Dublin (64.76mph de média) - 9 dos 11 MGs que entraram na corrida, terminaram o evento; 1 (com Norman Black no CO253 de #32) e 3 lugar (com Ron Horton no CO254) no Irish Grand Prix; em 19 de julho 5 lugar com Samuelson no CO265, no German Grand Prix; o 1 (Black com o CO253), 3 (Crabtree) e o 7 lugar (Parker com o CO255 #31), no RAC Tourist Trophy Race, também chamado de Ulster TT (22 de agosto), em Northern Ireland (média de 67.90mph); Hamilton estabelece um recorde para a classe no autódromo de Newtownards, com um C-Type; e 3 lugar no geral e 1 na classe com Eddie Hall no CO268 e o Team Prize junto com Kindell e Hall, nas 500 Miles Race, novamente em Brooklands, e 3 de outubro (nesta corrida a frente era de coifa, levava o #7 e o mecânico chefe era o Syd Enever, mais tarde chief designer da MG).
Em 1932 - 3 e 4 de maio - Norman Black com o CO253, fica em 3 lugar no geral e ganha na classe (atingindo 75.50mph de média), no JCC Thousand Mile Race em Brooklands; em 17 de julho Hamilton com o C0261 ganha na classe no German Grand Prix - Nürburgring - com uma média de 59.08mph (teve um C na mesma corrida, que se acidentou, mas foi rebuilt para a prova de Craigantlet Hill Climb); em setembro Eddie Hall no C0268, fica em 3 no geral e 1 na classe no RAC TT Race - na Irlanda do Norte (há relatos que o MG de Donald Barnes - que levou o #29 - foi emprestado ao Norman Black no TT de 32, mas não se classificou - esse foi o único TT, de 1931 a 1934, que a MG não ganhara). Apenas a título de ilustração: o Grand Slam - na época na British Isles - era vencer o Double Twelve em Brooklands, o Irish Grand Prix e o Ulster T.T.
No German Grand Prix em Nürburgring - Hugo Urban-Emmrich da Checoslováquia, pilotando um C-Type (C0263), pagou à MG todas as despesas para esta competição. Jacko e Kindell enviaram junto com o carro, um piloto para dar assessoria, e talvez servir como co-driver. Foi instalado o powerplus supercharger utilizado por George Eyston no EX120. Na verdade o bichinho esquentou muito nos treinos. Quem resolveu o problema, foi um tal de Dr. Porsche. Durante o treino e depois que o Porsche colocou a mão, o MG deu uma volta recorde, para o 750cc = 58mph em 17.4 milhas de percurso - isso tudo na chuva!!!
J.D. Barnes já pilotou um C-Type #29; o W.E. Hood, pilotou um em Donington Park de 1933 #9; Kenneth da mítica família Evans, pilotou um em Donington Park com #1 - o mesmo piloto com um single-seater percorreu a pista de Lewes Speed Trials em 1938; a equipe Evans usou um C-Type (C0277), durante muitos anos, com a traseira cortada (sem o rabo de pato) - esse carro - recebeu mais tarde um motor do R-Type instalado pelo Wilkie Wilkinson; Eddie Hall tinha o dele (works). Várias mulheres "pilotos" adoravam pilotar um C-Type.
Há referências de outras provas, com a participação do C-Type, mas encontrei em outros livros, informes que o C-Type não participou (apesar de em 1932 o carro posto na pista ser um C - outros dizem que o N também participava). Vamos às referências: 1 lugar no Phoenix Park Junior Race em Dublin; 2 e 3 no Phoenix Park Senior Race em Dublin (nas corridas de Phoenix Park em 1931 participaram 3 C-Types - tenho as fotos do desembarque nas docas de Dublin - o #33 era pilotado por R. Watney, o #31 por H.D. Parker e o #32 por Norman Black, que ganhou o evento); Class wins no Mont des Mules Hillclimb, em Monte Carlo (desconfio que seja um N-Type); Two Class wins, Shelsley Walsh Hillclimb; e Three Class win, Craigantley Hillclimb, Belfast.
Luis Cezar
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