Citroen 2CV 4x4
Sahara
"O cabrito francês"
Para agradar os leitores fanáticos por carros franceses (sim... eles existem), aqui vai mais uma lembrança. Trata-se da versão especial do 2CV, ou seja, um 2CV 4x4 com dois motores (um na frente e outro atrás), chamado de Sahara (depois, mudou de nome - but... continuou sendo chamado de com esse nome de deserto). É ainda um dos carros off-road mais difíceis de se pilotar (dizem). Foi construído entre dezembro de 1960 a 1971 - mais precisamente foram construídos somente 694 unidades do Sahara (uns dizem que foram produzidos 693 unidades porque a única unidade feita em 1971 ninguem sabe onde está ou se realmente existiu - nos livros da fábrica existiu, but...). Os compradores da época eram as Cias. de óleo francesas (localizadas em desertos do norte da África), os militares e a polícia (essa última, só se for a polícia da Legião Estrangeira!). Na verdade o carro era um sucesso para os médicos suíços residentes nos Alpes, ou para os policiais que trabalhavam nas colônias francesas localizadas nas Ilhas do Pacífico. Não era um grande mercado, but... para um carro com dois motores... Eu devo confessar que pela performance e pelo preço, eu prefiro mesmo um Land Rover S1, S2 ou um S3 - ou até mesmo uma série entre o S3 e o Defender - é mais carro, digo, utilitário.
A idéia de fazer um 4x4 - talvez - essa inspiração tenha vindo das expedições realizadas com o 2CV, entre os anos de 1958 e 1959 - chamada de Volta ao Mundo, realizada por dois jovens franceses Jean-Claude Baudot e Jacques Séguéla. Largaram do Paris Motor Show em 9 de outubro de 1958 com um 2CV normal, atravessaram o Mar Mediterrâneo (de navio a partir do Porto Vendres atá a Argélia). Atravessaram o Continente africano e a partir da África do Sul, partiram de Cape Town ao porto do Rio de Janeiro. Atravessaram toda a América do Sul indo parar nos Estados Unidos (eu não tenho essas fotos de passagem do 2CV por aqui). De San Francisco (Califórnia), foram parar no porto de Yokohama (Japão), retornando à cidade de Paris, em 11 de novembro de 1959 (foram 13 meses, onde rodaram mais de 100.000 quilômetros, consumindo 5.000 litros de gasolina e 36 pneus). Antes deste evento, outros similares realizados no norte da África tinham o nome de Raids, começando de maneira mais "profissional" em 1970 (vide o Paris-Persepolis no Irã). Há que se lembrar que os Raids (rallyes) franceses, no Norte da África, foram realizados a partir de 1952. O 2CV tinha inúmeros apelidos (sendo os mais comuns em diversos países o de Pato Feio - ou outra designação utilizando o nome Pato), mas o 4x4 já era batizado com o nome de Sahara e assim ficou (mesmo depois de ter mudado de nome - aliás, tecnicamente ele não era conhecido como Sahara - em 11 de outubro de 1960 o Sahara é oficialmente chamado de AZ 4/4, sendo homologado como tal).
O lançamento não foi assim uma maravilha... Havia preço disponível em outubro de 1958 - até 1960 apenas 20 unidades foram construídas, contudo, os carros só foram disponíveis comercialmente ao público em fevereiro de 1961 (vários problemas que não vou enumerar, surgiram, o maior era que os fabricantes eram de origem latina - precisa explicar mais?). O Sahara só recebeu a devida homologação em outubro de 1960 (como já noticiado), com a designação de 2 CV AZ 4/4, sendo produzido pela Panhard, que desde 1955 vinha produzindo o 2CV AZU.
A versão de fábrica era que o Sahara foi produzido para ser utilizado nas colônias francesas na África e Ilhas do Pacífico. Apesar dos dois motores, a caixa de marchas era uma só, assim como a embreagem e acelerador. O protótipo fora produzido em 1958 (produção em massa em 1960). Houve produções independentes, usando o chassis do Méhari 4x4, com a carroceria do 2CV, mas não era considerado um autêntico Sahara (dizem que hoje em dia há entre 30 a 50 Saharas ainda de pé - a Casa de Leilões Christies bateu o martelo do Sahara de chassis 449, por 21.150 euros!!!). Apesar da engenharia francesa ser boa, o pessoal da Citroen achou mais fácil fazer um 4x4 usando dois motores iguais, mudando apenas a suspensão traseira (tinha dois tanques de gasolina separados, um montado debaixo do banco do passageiro e outro no banco do motorista).
O 2CV 4x4 já havia sido fabricado por terceiros antes mesmo da Citroen (chamados de fora de série), como o construído em 1954 pelo engenheiro aeronáutico M. Bonnafous, que colocara um motor extra de 375cc (o Bonnafous queria ter um veículo parecido com o Jeep, que 10 anos depois da guerra, tinha as peças rareadas na França e com um custo muito caro, além disso, como ele utilizava o Jeep todos os dias, gastando muita gasolina, então, ele queria um carro mais econômico - a história é verdadeira - ele alterou o seu 2CV de placas 625K73 - ficou pronto em fevereiro de 1955 e homologado em junho daquele ano, para poder ser re-licenciado). Outros dealers da Citroen, por encomenda, fizeram o mesmo, contudo, colocando motor de 425cc. Dizem (boatos), que a Citroen a pedidos do governo, fez um projeto de um 4x4 para suas colônias no Norte da África - a montadora, então, pegou o projeto de 1954 do Bonnafous e montou (a partir de 1957) o primeiro protótipo, juntamente com a Panhard. Esse primeiro protótipo passou por severos testes na floresta de Fontainebleau (percorreu mais de 100.000 quilômetros), sendo apresentado para a imprensa em março de 1958 (em Mer de Sable - no meio das areias - but... nem chegava perto do verdadeiro Sahara). O segundo protótipo foi apresentado no Salão de Paris, em outubro de 1958, com algumas diferenças principalmente no exterior.
Depois que foi construído o segundo exemplar do 4x4, com alguns melhoramentos, outros distribuidores solicitaram autorização para o Bonnafous, para a construção de alguns destes modelos (vide carta datada em 12 de junho de 1957) - neste período a Citroen já notara que havia mercado para tal modelo, ainda mais pelo volume de encomendas realizadas na distribuidora da Citroen em Oloron. A própria Citroen encomenda para a Panhard a construção de dois destes modelos para testá-los (a Panhard era controlada pela Citroen desde abril de 1955). Os dois modelos foram testados em campo militar em Fontainebleau (dizem, que depois, disso houve um terceiro protótipo?!). Os pilotos de teste chamavam o modelo de mula mecânica, devido a sua facilidade de carregar peso e de andar na terra e na areia. No dia da apresentação aos jornalistas no Mar de Areia de Ermenonville (7 de março de 58), o carro pesava 640 kgs e consumia entre 9 a 11 litros de gasolina, estando equipado com pneus Michelin X 155 x 400, com 0,7 de bar de pressão.
Em dezembro de 60 inicia-se a produção, com as partes levando a nomenclatura AW. Em setembro de 1961, a compressão passa de 7:1 para 7.5:1, e os carburadores Solex passam de 26mm para 28mm. Em 1962, por decisão política, o nome Sahara é retirado e passa a ser designado como 2CV 4x4. Somente em setembro de 1964, puseram cintos de segurança. Oficialmente em 1967 a produção foi parada (alguns dizem 68, outros 69 e outros 70 - mas oficialmente foi em 1971), contudo, podia-se encomendar o "Sahara" até 1971 (a fábrica informa que somente um carro foi montado em 1971 - e hoje não se sabe por onde anda - todos os outros, informa a montadora, foram produzidos até 1967 - ou seja, de 67 a 70 não foi produzida uma só unidade).
Para ser mais exato de 01/09/60 a 29/08/61 a produção foi de 20 unidades (chassis 000 001 a 000 199) De 29/03/61 a 31/08/62 a produção foi de 274 unidades (chassis 000 200 a 000 449). De 29/06/62 a 29/08/63 a produção foi de 112 unidades (chassis 000 501 a 000 618). De 29/08/63 a 24/08/65 a produção foi de 87 unidades (chassis 000 631 a 000 707). De 25/08/64 a 29/08/65 a produção foi de 138 unidades (chassis 000 710 a 000 742). De 30/08/65 a 04/09/66 a produção foi de 35 unidades (chassis 000 750 a 000 779). De 05/09/66 a 29/03/67 a produção foi de 27 unidades (chassis 000 780 a 000 791) - e... em 1971 foi fabricado um único 2CV 4x4 com dois motores, terminando assim a saga oficial (curioso que não há número de chassis registrado, tampouco números sequenciais dos motores!!!).
Os motores feitos foram designados de números 05400113 a 05400094, sendo o primeiro modelo registrado em agosto de 1962. A velocidade máxima usando apenas um motor era de 65 km/h e utilizando os dois motores, chagava-se a 105 km/h. Tinha um peso bruto de 1.040kg, com tara de 735kg. Eram dois motores AZU PO de 424cc, com 14CV a 4.500rpm por motor. Os carburadores eram Solex, com circuito elétrico de 6V (bateria de 60Ah). Eram dois tanques de combustível de 15 litros cada (os pneus eram os mesmos do lançamento: Michelin X 155x400), com uma capacidade de reboque de 250kg.
Esse modelo foi utilizado em rallyes endurance tanto na França, como fora dela - mais notadamente nos rallyes (históricos e não de época) africanos (Safari); nos rallyes de neve na Suécia e Finlândia, inclusive, no Rallye de Monte Carlo; nos rallyes alpinos e no rallyes de longa duração, como os realizados de um Continente ao outro. Cabe lembrar que eram carros inscritos por times privados e não pela Citroen (a fábrica tinha Times com os DS e sua geração). Hoje em dia nos rallyes históricos europeus, esse modelo aparecen uma vez ou outra, contudo, a sua maior frequência é a sua participação nos rallyes realizados em areia e promovidos para carros da Citroen 2CV (apesar que no rallye histórico de Dubai eu vi um destes). É um carro feio - muito feio e desconfortável - mas essa engenharia lhe deu um ar de simpático e charmoso, mas isso não lhe deu um passaporte para participar de todas as provas de subida de montanha (por exemplo), realizadas no Reino Unido (Quer participar? Use somente um dos motores). É isso ai, não tem muito o que falar deste cinquentão.
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