Rallye quer dizer reunião... em alguns casos reunião de amigos, em outros, reunião de amigos e de competidores. Sob qualquer aspecto, como se trata de uma prova desportiva, deve-se atender ao chamado ético-desportivo. Agora, quando a pessoa quer vencer de toda a forma, não importando o meio que utilize, mesmo que esse meio vá prejudicar terceiros no resultado final, terceiros esses que agem dentro das regras, há que se repensar num modelo de prova que iniba essa atitude.
O Fair Play vem de berço, ou no mínimo quem não está muito afeito a tal filosofia desde pequeno, sabe que se faz mister observar e respeitar regras, pois, do contrário, não haverá ética no desporto - no caso específico - no esporte a motor consubstanciado no rallye de regularidade. A fraude não pode ser o esteio do espírito desportivo. O fim – ganhar – justifica utilizar quaisquer meios, tais como corrupção e a fraude, nunca será o caminho a ser seguido - tal caminho não está disposto no livro de bordo, mas piloto e co-piloto tem que seguir o Fair Play como uma rota segura. O querer ganhar a todo e qualquer custo, fazendo uso de embuste, ardil, enredo, maquinação, fraude e/ou de deslealdade, gera a ausência de espírito desportivo. Quem ganha um troféu num rallye praticado sob fraude, quebrando as regras e prejudicando quem as seguiu, mancha o troféu, deixando esse de ser a insígnia da vitória. Macula o nome e a imagem de quem não atende ao significado da ética esportiva. Ignora o sentimento do Fair Play.
Na Europa quase a totalidade dos participantes podem utilizar um "trip" eletro-mecânico (ex: Brantz RetroTrip), ou um mecânico (ex: Halda Twinmaster), na ajuda da navegação. Em muitos destes rallies, o co-piloto utiliza ainda, sinais sonoros e/ou luminosos para dar ritmo ao seu curso. E finalmente, há o uso complementar e necessário de um cronometro. Só isso. Não se utiliza GPS, computadores de bordo, uso de celulares ou tablets, com programas de rallye e/ou hodômetro combinado com velocidade vinda de informação de satélite. Aqui no Brasil, há em número pequeno ainda, competidores que não possuem a menor ética, e quebram as regras fazendo uso destes equipamentos, em detrimento daqueles que usam apenas o cronometro, o velocímetro/conta-giros e o hodômetro.
Para reduzir esse número de fraudadores, há que se ter regras claras e rígidas, como as praticadas nas 1000 Milhas Históricas brasileiras e no regulamento interno de rallye do MG Club do Brasil. Na maioria esmagadora de provas de rallye de regularidade histórica, praticada no Brasil, não se admite (indo na contra-mão do que acontece no mundo), o uso de trips (as referidas 1000 Milhas permite), que coloca os competidores pelo menos em razão do hodômetro em posição igual aos demais, mas mesmo assim, perde diante daqueles que utilizam o GPS no percurso inteiro da prova. Aliás, não é só o GPS, é usar hodômetros de última geração, ou alterar a configuração deste - há até a inclusão de hodômetro de forma parcial, em carros que sequer tinham tal dispositivo na época.
O que fazer? Quando houver a certeza do uso, haverá a expulsão do competidor, como já ocorreu. Quando houver denúncia, há que se investigar e se for o caso, punir. Mas quando há fortes indícios, o que fazer? E se estes indícios forem constatados, repetidamente, em outras provas? Há na Europa uma atitude tácita (portanto, não expressa), entre os clubes organizadores de rallye histórico, de não aceitarem a inscrição de determinado indivíduo que sabidamente, utiliza de embuste, de ardil, de fraude para ganhar a prova. Estes vão para a chamada Black List (barrar competidores que utilizam de fraude, ou que sabidamente tem má conduta ou fez coisa pior, não é novidade: vide o caso que aconteceu com a Hellé Nice, quando quis fazer o rallye de Monte Carlo de 1949 - o primeiro pós-guerra - quando o campeão de GPs Louis Chiron, a acusou de ter trabalhado como espiã para a Gestapo durante a II Grande Guerra). Outro sistema que utilizam, é a colocação de gps intrusos, que embaralham o GPS utilizado ilegalmente dentro do veículo (já vi, também, aparelho inibidor de sinal de celular, para que este não seja acionado durante a prova, como também, já vi ser colocada "cam" digital em carros suspeitos). Outro meio eficaz, é a mesclar na prova com pontos em dobro, a gomita ou prova com uso de célula foto-elétrica na frente de fiscais.
Mas, nas grandes provas de rallye histórico européias, o que se vê é o uso da ética (claro, há exceções - eu por exemplo, fui contatado numa prova européia, por um time de um determinado país, para atrapalhar 2 carros de uma determinada equipe, a troco de Euros tendo em vista que eu não estava concorrendo no campeonato europeu da FIA-Historic - claro... recusei com veemência). Quando todos seguem as regras do jogo, a vitória é maiúscula. Sem contestação ou desconfiança. O MG Club do Brasil, espera no ano de seu trigésimo aniversário (2013), introduzir novas regras e/ou equipamentos para coibir esse tipo de fraude. Vamos aguardar - mas o que deve prevalecer é a ética neste segmento, resumida no espírito do Fair Play.
Luis Cezar