Corridas que já encerradas nas suas edições, são reeditadas para provas de carros clássicos, como a Carrera Panamericana (The Mexican Road Race, de Vera Cruz a Monterrey - México). Mas o que me chama a atenção foi a corrida mais famosa deste evento: a ocorrida em 1952 (III Carrera Panamericana), onde a Mercedes-Benz asa-de-gaivota, marcou a história.
Uma das corridas de estrada mais famosas do mundo, foi a Carrera Panamericana (o Porsche Carrera, tem esta denominação em homenagem a esta prova, assim como o de 4 portas atual), que foi realizada entre 1950 e 1954, onde os carros eram postos a toda a prova, pois, o piso desta estrada era péssimo. Pilotos como Taruffi, Chinetti, Ascari, Villoresi, Sterling Moss, Fangio eram apenas alguns dos grandes nomes que faziam desta prova o máximo, com suas Ferrari, Mercedes, Alfa, Jaguar, Lancia, Maserati, Porsche, etc.; seguidos pelos norte-americanos como Chrysler, Lincoln, Buick, Cadillac e Oldsmobile (todos V8) - a primeira prova, meio que amadora, largaram 132 carros e destes, 21 eram Cadillacs.
Em 1952 foram criadas duas classes - uma para carros Sport, e outra para carros de Turismo ou Stock (com uma carroçaria fechada - na verdade para beneficiar os carros norte-americanos, pois, eram exigidas várias condições, como a de carros com 5 lugares!!!), numa corrida realizada em 5 dias. O grande destaque e esperança de ganho neste ano, estava dirigida aos italianos, que tinham a participação nos seguintes carros: três Ferraris 4.100, uma 250 Mille Miglia e outras cinco 212; além de 4 Lancias Aurelia GT. Todos estes carros maravilhosos, comeram muita poeira, porque quem ganha esta prova e entra para a história de forma definitiva, foi a Mercedes-Benz modelo 300 SL (asa-de-gaivota), pilotada por Kling e tendo como segundo lugar de honra, o carro pilotado por Lang e em terceiro lugar a Ferrari de Chinetti (que só ficou em terceiro, porque uma Mercedes foi desclassificada).
A Carrera Panamericana era uma corrida, também, muito perigosa. Em 1953 Bonetto morreu dentro de sua Lancia, quando bateu num muro na Vila de Silao, Antonio Stagnoli e Giuseppe Scotuzzi foram vitimas de acidentes, quando a Ferrari passava pela rodovia em Oaxaca. Dizem que Fangio, percorria o trecho antes da prova oficial e marcava os pontos mais perigosos com sacos de estopa (verdade ou mentira, passou-se a utilizar em 53, planilhas ou livros de bordo - a Mercedes já se utilizava deste recurso de rallye, neste ano de 52).
Para se ter uma idéia da logística a cada Carrera Panamericana, era disponibilizado o seguinte: 40.000 soldados ficavam de prontidão ao largo da pista, assim como, 3.000 médicos eram avisados do evento em todo o percurso; 600 oficiais do evento, ficavam nos vários check points, além dos 65 aviões que movimentavam pneus, partes e mecânicos ao largo da Carretera. Em 1952 somente 39 dos 92 starters cars, terminaram o evento.
A Carretera (estrada) tinha uma extensão de 3.114kms, estendendo-se do sul ao norte, desde Tuxtla até Juárez (na primeira edição, o circuito era inverso), e conforme o chefe da equipe da Mercedes-Benz - Alfred Neubauer - era uma combinação das provas italianas, como o Grande Prêmio de Tripoli e a Mille Miglia, misturado com a prova alemã, como Nurburgring e com a francesa, como a 24 horas de Le Mans.
Porque esta prova era considerada a mais dura feita na época? Era na verdade uma combinação de vários temas: uma temperatura alta (e as vezes baixa) e úmida, numa demonstração de clima tipicamente tropical, onde os carros passavam ao nível do mar, subindo a altura de mil e até um pouco mais de 3 mil metros (por exemplo, Cidade do México). A temperatura externa atingia invariavelmente os 34 graus como máxima, e como mínima os 4 graus positivos. A cada 160 kms, os mecânicos davam uma ajustada nos motores.
Hans Klenk (a esquerda) e Karl Kling num dos pits.
Certamente, depois de Durango as velas eram necessariamente trocadas... Isso sem contar com uma leve poeira vulcânica, que era espargida na estrada onde os carros literalmente voavam e que, por sua abrasividade os pneus sofriam mais do que o normal. A cada mil quilômetros havia uma necessidade de se trocar todos os pneus.
Carrera Panamericana de 52 - da esquerda para a direita: Hermann Lang e Erwin Grupp, Karl Klink e Hans Klenk. Com a SL roadster John Fitch e Eugen Geiger.
Karl Kling e Hans Klenk depois do anúncio da vitória.
Categoria SPORT
Karl Kling, Stuttgart, Alemanha, Mercedes-Benz, 18:51.19 ($17,422).Hermann Lang, Stuttgart, Alemanha, Mercedes-Benz, 19:26.30 ($11,628).
Luigi Chinetti, Modena, Italia, Ferrari 4.1, 19:32.45 ($6,977).
Humberto Maglioli Biella, Itália, Lancia, 20:11.20, ($4,651).
Jack McAfee, Maniatan Beach, Calif. (USA), 4.1 Ferrari, 20:21.15, ($2907).
Phil Hill, Santa Mónica, Calif. (USA), 2.7 Ferrari, 20:33.46, ($581.40).
Paco Ibarra, Cidade do México, Ferrari, 23:14.48, ($581.40)
Furst Metternich, Alemanha, 1.5 Porsche, 23:18.15, ($581.40)
Enrique Ortiz Peredo, Cidade do México, Lancia, 23:52.47, ($581.40)
Douglas Ehlinger, Puebla, México, Jaguar XK-120, 24:37.37, ($581.40)
Categoria Turismo
Chuck Stevenson, Fresno, Calif., USA, Lincoln, 21:15.38, ($11,628).Johnny Mantz, Los Angeles, USA, Lincoln, 21:16.09 ($5814)
Walt Faulkner, Long Beach, Calif., USA, Lincoln, 21:20.27, ($2907)
Bob Korf, Wright - Patterson AFB, Dayton, USA, Lincoln, 21:25.09, ($1744)
Reginald McFee, Rochester, N.Y., USA, 1951 Chrysler, 21:43.00, (1162)
C.D. Evans, El Paso, Texas, USA, Chrysler, 21:54.55, ($581.40)
Marshall Teague, Daytona Beach, Fla., USA, Hudson, 22:08.00, ($581.40)
Murr Dean Kirby, Tampa, Fla., USA, Cadillac, 22:17.50, ($581.40)
(tie) Jean Trevoux, Mexico City, USA, Packard, 22:35.00, (581.40)
Allen Heath, North Ridge, Calif., USA, Chrysler, 22:35.00, (581.40)
Em décimo primeiro lugar, chegou o campeão do ano anterior, o famoso Piero Taruffi, de Roma, com 22:43.59 num Oldsmobile. A única mulher foi Jaqueline Evans da Cidade do México, terminando em 27° num Chrysler, com o tempo de 26:34.05. Douglas Ellinger, que pilotou um Jaguar Roadster 1952 modificado, usou nesta corrida nada menos do que 20 jogos de pneus, desde Tuxtla até a chegada em Juárez! A Mercedes-Benz de John Fitch (conversível, no modelo 300), foi altamente penalizada com esse piso abrasivo, na primeira parte da prova entre Tuxtla a Oaxaca, nuna distância de 530km.
Eles ainda ganharam....
Karl Kling e Herman Lang reclamavam dos bois e vacas errantes na pista, além das pedras pequenas que terminavam nos vidros dianteiros - para-brisas - da Mercedes - isso sem contar com um verdadeiro pássaro que se chocou contra o para-brisas da Mercedes de Lang, quando este estava a mais de 160kph. Chamado por Lang como monstro voador (pelo rombo no vidro, foi um peru ou algo semelhante), este ente voador deixou em pedaços metade do vidro da Mercedes, cortando o navegador ou co-piloto, só parando no vidro traseiro. Com este acontecimento, a equipe colocou grades na frente do para-brisas para uma melhor proteção, para evitar as "galinhas", etc. Esse carro ficou famoso por isso.
Os problemas mecânicos, os incidentes, os acidentes, as condições das estradas e as condições climáticas, tiravam os europeus de cena. Eu imagino o calor que o time alemão enfrentou na 300SL. Agora, a Mercedes era profissional - o time de mecânicos, o time de apoio e assistência era de dar inveja aos times italianos, que inundaram essa terceira edição da Carrera Panamericana.
Mille Miglia de 3 a 4 de maio de 1952
Nurburgring de agosto de 1952
Este modelo de 300SL, chamado W194, foram feitos 11 carros (fabricados a partir de 19/02/52), chamados de barra 52, são eles: 01/52 era um protótipo (tinha - como agora sabemos - um segundo carro protótipo, que nunca correu); 02/52 (W 59-4029), participou da Mille Miglia (terceiro lugar) e Nürburgring (segundo lugar); 03/52 (W 59-4998), participou da Mille Miglia (segundo lugar); 04/52 (W 59-4997), participou da Mille Miglia (segundo lugar), 24 horas de Le Mans e Nürburgring; 05/52 (W 59-4999), participou da Mille Miglia (quarto lugar) e Carrera Panamericana (segundo lugar);
Le Mans de 13 a 14 de junho de 1952
6/52 (W 83-3146), participou da Mille Miglia, 24 horas de Le Mans e Nürburgring (quarto lugar); 07/52 (W 83-3784), participou de Nürburgring (primeiro lugar) e Carrera Panamericana; 08/52 (W 83-3785), participou das 24 horas de Le Mans, Nürburgring e Carrera Panamericana (primeiro lugar); 09/52 (W 83-3786), participou das 24 horas de Le Mans (segundo lugar), Nürburgring (terceiro lugar), e Carrera Panamericana (chegou em terceiro, mas foi desclassificado); 10/52 (W 83-4029), participou de Nürbrugring e o 11/52 (W 24-6360), que não teve histórico de corridas.
Em 52, como já noticiado acima, os italianos eram os mais cotados a ganharem esta prova, pois, em 51 foram ganhadores (ficaram em primeiro e em segundo). Era esperado que o campeão mundial Alberto Ascari e Giovanni Bracco, ambos pilotando carros Ferrari, modelo "México", de 12 cilindros, que foram fabricadas especialmente para esta prova, levassem novamente o título. Ascari "ficou" logo na primeira etapa - claro, estava com um carro italiano... (brincadeirinha).
Quem ganha a primeira etapa da Carrera em 52 foi - acreditem - o Gordini pilotado pelo ex-campeão de moto - o francês - Jean Behra, que ainda por cima, não tinha um co-piloto (ele fez nesta etapa uma média de 143kph, marcando um recorde para esta etapa de 533km). Neste momento a prova estava na cidade de Oaxaca e o italiano Bracco, pilotando uma Ferrari, ficou em segundo e a Mercedes com Kling, ficou em terceiro (no final desta etapa, 50% dos carros da Categoria Sport, não cruzaram a linha de chegada).
No dia seguinte o francês - cheio de orgulho de seu Gordini - mandou bala no acelerador, pois, tinha uma Ferrari logo atrás dele - resultado: depois de uma reta, o francês entrou numa curva e foi parar 25 metros abaixo, num pequeno abismo, só se salvou por uma tremenda sorte, ao ficar preso numa rocha (o Gordini era leve).
Na terceira etapa a Categoria Sport - agora era reduzida somente a 14 carros (largada em Puebla). O italiano Bracco havia conseguido uma vantagem de 1 minuto sobre os 3 carros alemães, que tinham problemas com os pneus, aliás, os mesmos problemas que tiveram os italianos em 1951 (a partir desta etapa o chefe da equipe da Mercedes-Benz - Neubauer - determinou que fossem trocadas rodas para 16 ou 17 polegadas). Ou seja, no quarto dia, o italiano Bracco, que mantinha uma vantagem de 7 minutos sobre os alemães, viu ela chegando a 6, a 5, a 4, a 3 e... passaram os 3 carros prateados, primeiro por Kling, depois, por Lang, sendo seguido pelo norte-americano John Fitch, na sua Mercedes conversível. Na última etapa, o italiano Luigi Chinetti chegou em terceiro lugar, não por mérito, mas porque o piloto Fitch foi desclassificado por uma boba infração ao Código Esportivo Internacional.
Umberto Maglioli pilotando uma pequena Lancia V-6 de 2 litros, ficou em quarto lugar, seguido por Jack McAfee numa Ferrari, Paco Ibarra numa outra Ferrari, Prince Metternich num Porsche, Enrique Peredo numa Lancia e Douglas Ehlinger num Jaguar XK-120.
Na outra Classe, também chamada de Stock, limitada a modelos de produção com mais de 5.000 carros vendidos, ficou limitada aos Lincolns, Chryslers e aos rápidos Hudson Hornets, que chegavam sempre sem freios (como curiosidade, largou na Classe Stock, um Jaguar Mark VII, 1952, mas que teve uma junta do cabeçote rompida, e...). O ganhador do ano anterior - Piero Taruffi - negociou com várias montadoras norte-americanas, pilotando um Oldsmobile. Taruffi fez companhia ao piloto do Jaguar MK VII... Nesta Classe, os pilotos e veteranos de Indianápolis, Chuck Stevenson, Johnny Mantz e Walt Faulkner ficaram em 1, 2 e 3 com seus Lincolns de 205hp (como curiosidade o capitão Bob Korf da Base "Wright Patterson" da Força Aérea de Ohio, pilotando um Lincoln, ficou em quarto lugar e "perdeu" o seu co-piloto com seu carro em movimento).
Jack McAfee de Manhattan Beach, California, atropelou um na Cidade do México, com sua Ferrari 4.1 (que ficou em 5°). O engenheiro Santos Letona Díaz, morreu quando perdeu a direção do seu Jaguar XK-120 modificado, numa ponte perto de Puebla. O co-piloto Gow (companheiro de Korf), tentou apagar fogo no sistema elétrico, soltando o seu cinto de segurança - resultado: numa curva ele foi "botado" para fora do carro, segurando os fios ainda queimando - como afirmaram os mexicanos: "escapó con pequeños moretones y cortadas". Para o piloto de Indianapolis, Johnny Mantz, o que interessava era bater o recorde do seu compatriota - Tony Bettenhausen - que no ano anterior manteve uma velocidade média de 183kph com seu Chrysler e o Mantz fez 186kph. A velocidade média dos 3 stocks ganhadores em todos os 3.114kms foi: Stevenson - 146.4kph, Mantz - 146.3kph e Faulkner - 145.8kph (a Ferrari em 1951 fez uma velocidade média de 142kph). O alemão Karl Kling na sua Mercedes, manteve uma média de 164kph, ou seja, 22 kms mais rápido que Taruffi!
A discussão informal entre os participantes, era a preparação das Mercedes. Nas palavras de Neubauer, "foi uma combinação entre pilotagem habilidosa e uma preparação precisa, levando a uma vitória da equipe Mercedes-Benz". Os pilotos norte-americanos listaram várias vantagens da Mercedes, como a suspensão traseira independente, a montagem em 45 graus do motor, de 175 cavalos, para um centro de gravidade mais baixo. Mas para... vantagem sobre Chevrolet e Ford? Esquece.
Bern-Bremgarten de 18 de maio de 1952
Pilotado por Kling, a equipe da Mercedes-Benz estabeleceu um padrão para este tipo de competição, vencendo as provas mais duras, como Le Mans e México. Kling fez na última etapa de 372 km (de Chihuahua até o aeroporto de Lamsa, a 16kms de Juárez), una velocidade recorde de 214.5kph!!!
1952 Mercedes-Benz Type 194 Coupe. Briggs Cunningham Trophy.
Vamos lá a alguns participantes da Carrera de 1952
Alberto Ascari e Giuseppe Scotuzzi com a Ferrari 340 Mexico
Aqui o Luigi Villaaresi e Piero Cassani na Ferrari 340 Mexico
Paco Ibarra e Vicente Solar com a Ferrari 212
Walt Faulkner com seu Lincon
Gordini do Jean Behra
Luis Cezar
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