Artigo do meu amigo Julio Penteado - nossa enciclopéida ambulante sobre carros clássicos e admirador de recordes!
Luis Cezar
PÉ NA TÁBUA
As tentativas de quebra de recorde no Brasil começaram timidamente na década de 30, quando a equipe alemã da Auto Union, que estava no Brasil disputando o Grande Prêmio da Gávea (Rio de Janeiro), levou seus carros para o Retão de Jacarepaguá para treino e acerto de motor.
Resolveram então bater o recorde brasileiro. Como não havia marca registrada no País e os Auto Union Tipo C eram os carros mais rápidos do mundo, com 600 hp e 850 kg, óbvio que tivemos a nossa primeira marca muito bem batida, mas nunca homologada. A equipe Campeã da Auto Union utilizou um padrão mundial que é o “Quilometro Lançado”. Nesta prova o carro larga parado; acelera por um quilometro; entra no trecho cronômetrado de um quilomtero (1000 a 2000) e tem mais um quilometro para parar. Vira-se o carro no sentido inverso, acelera por um quilometro, entra no trecho cronometrado de um quilometro (1000 a 2000) e... É muito importante que todas as medições sejam feitas com este mesmo critério, pois assim teremos dados comparativos. |
Nos Estados Unidos onde existem os Lagos de Sal, são feitas provas com carros a jato em percursos muito maiores, de 5 ou 9 milhas, mas isto é outra estória para um outro artigo...
Veio a II Guerra Mundial e muitos anos de esquecimento. Por 30 anos ninguém sabia da marca do quilômetro, até que, em 1966, a DKW-Vemag com um atuante departamento de competições chefiado pelo lendário Jorge Lettry, encomendou a Anísio Campos e Rino Malzoni, um veículo especial para recordes de velocidade.
Muito leve e aerodinâmico, o "Carcará" cravou 213 km/h de velocidade média no quilômetro lançado marca muito boa como recorde absoluto para veículos de até 1.0 litro. Alguém aí se habilita a bater uma marca de 40 anos? Sem turbo ou nitro?
Muitos experts em preparação olham com superioridade para marcas como a de 213 km/h. Só isso! Ótimo, vá tentar então e ver como é difícil largar parado, acelerar somente um quilômetro, então abrir os cronômetros para obter a velocidade média no segundo quilômetro. É preciso muita potência, boa tração, câmbio bem escalonado e boa aerodinâmica para manter a média acima dos 300 km/h por um quilômetro.
Em 1970, foi inaugurada a raia olímpica da Marginal Pinheiros: 2,5 km de reta entre a entrada da Rodovia Castelo Branco e a Ponte do Jaguaré. O jornal "Estado de São Paulo" estava lançando o "Jornal da Tarde" e queria promover uma competição esportiva que marcasse bem a data e conseguiu - "Novo Record Nacional". A Polícia interditou 3 km da Marginal. Dizem que o local, de tão bom para esse tipo de prova, é usado para rachas noturnos até hoje.
O recorde da marginal foi batido pela lenda Camilo Cristófaro e sua Carretera Chevrolet Corvette V8 283. O Corvette bateu 236,73 km/h, tendo em segundo lugar Alcides Diniz com seu Lamborghini Miura P400S. Era, na época, o carro mais rápido do mundo: 280 km/h de máxima, segundo a fábrica. Conseguiu 224,41 km/h de média, largando parado na Marginal.
Dois anos depois, em 1972, na pista da base aérea de Cumbica, nova reunião para quebra do recorde. A pista de pouco mais de dois quilômetros não permitia a aceleração oficial e obrigatória de 1 km. Os carros ali dispunham de apenas 500 m para acelerar e já entravam na zona de cronometragem, tendo ainda que frear apertado, em cerca de 300 m. Ou seja, não era oficial.
O piloto Sérgio Mattos com o Ford GT 40 da equipe Ford-Greco ganhou com 238,15 km/h, pouco mais que o segundo colocado, Luis Pereira Bueno, com o Porsche 908/2 com 236,51 km/h.
As próximas tentativas só viriam anos mais tarde, em 1990, quando o Alfa Romeo Clube do Brasil e a cidade de Barra Bonita conseguiram fazer a "I Prova Su Strada" na Rodovia Orlando Ometto. Foram cinco provas, de 1990 a 1994. Todo ano as médias aumentavam, o asfalto piorava e por questões de segurança a prova foi interrompida. Fica para sempre gravado o carinho que a cidade recebia a todos.
Em 1994, o Auto Union DKW Clube conseguiu a enorme pista de Base Aérea de São José dos Campos. Com 60 m de largura e 3 km lisos e planos, era o nosso Boneville (deserto de sal mais conhecido dos Estados Unidos, onde são feitas as medições de velocidade máxima). Em São José foram três edições do "Festival Brasileiro de Recordes", em 1994, 1995 e 1996.
O festival foi marcado pelo sucesso dos De T omaso Pantera da Brabo Motorsport. Em 1994, foi Edgar Mattar, com uma Pantera V8 6.6 com bloco e cabeçotes de alumínio, que "estourou" os cronômetros com 252,50 km/h de média. Primeiro recorde brasileiro acima dos 250 km/h!
Em 1995, Fábio Steinbruch com outra Pantera da Brabo, com o bloco original no V8 351 (5,7 litros) de ferro fundido, cravou 267,76 km/h, novo recorde brasileiro.
O último recordista de São José dos Campos foi o bom e velho Opala, com um super-V8 de Nascar (Stock Car americano) de 6,6 litros e mais de 500 cv, num carro de corrida leve (sem painel, bancos...) marcando 274,60 km/h de média. Um ano depois, Fábio Sotto Mayor com um Opala Stock Car conseguiu 303,10 km/h numa estrada com mais de 4 km de extensão. Isso impossibilita qualquer comparação com as provas regulares de quilômetro lançado.
Finalmente, graças à revista FULLPOWER, tivemos agora em 2002 um novo e belíssimo recorde brasileiro. Alejandro Sanchez, com seu Porsche 993 bi-turbo 3.8 conseguiu 306,22 km/h de média. São 700 cv e suspensão muito boa para manter o Porsche quieto, acelerando de O a 300 km/h em cerca de 20 segundos.
No ano de 2003 foi realizada no Aeroporto de São José dos Campos a ultima tentativa que produziu os resultado seguintes nas marcas brasileiras no “Quilometro Lançado”.
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Tempo p/ | Velocidade Média | Velocidade | | | ||
Percorrer o | no Km Lançado | Máxima ao passar | Carro | Piloto | ||
Km Lançado | | pelo Radar | | | ||
1.000 a 2.000 m | | | | | ||
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11,588 | 310,666 | 321 | Porsche 993 bi-turbo | Alejandro Sanchez | 2003 | |
12,692 | 283,643 | 298 | Porsche C 2 bi-turbo | Antonio Luis Freitas | 2003 | |
12,834 | 280,505 | 296 | Nissan 300 Zx bi-turbo | Alejandro Sanchez | 2003 | |
13,100 | 274,600 | NA | Chevrolet Opala V8 | Guido Borlenghi | 1996 | |
13,250 | 272,210 | NA | Nissan 300 Zx bi-turbo | Geraldo Jafet Filho | 1996 | |
13,321 | 270,250 | 287 | De Tomaso Pantera | Fabio Steinbruck | 2003 | |
NA | 267,160 | 273 | Porsche 993 bi-turbo | J. Roberto Venezian | 1996 | |
NA | 266,770 | 284 | Ford Mustang GT | Ricardo Malanga | 1996 | |
13,626 | 264,201 | 302 | Corvette Nascar | Dimas M. Pimenta | 2003 | |
NA | 263,250 | NA | Santa Matilde 4.1 Turbo | Francisco Lopes | 1996 | |
NA | 261,720 | NA | Chevy Caravan 4.1 Turbo | Alexandre Martins | 1996 | |
NA | 261,060 | NA | Chevy Opala 4.1 Turbo | Antonio Luis Freitas | 1996 | |
13,896 | 259,067 | 269 | Porsche 993 bi-turbo | Roberto Sammed | 2003 | |
NA | 257,150 | 271 | De Tomaso Pantera 427 | Julio Penteado | 1996 | |
NA | 256,320 | NA | Ford Musrtand GT | Luis Fernando Batista | 1996 |
Júlio Alberto Penteado é piloto, é o maior colecionador de De Tomaso e detém a 13ª marca de velocidade!!! |
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