Eram velozes; tinham motor modificado ou trocado por uma muito mais forte; não tinham freios; eram recortadas e com apliques em lona (tampa do porta-malas); e não faziam bem curvas fechadas. But... eram espartanas, para pistas de terra ou de paralelepípedos, mas seus pilotos ou volantes como eram chamados no Rio Grande do Sul, eram rústicos, corajosos, audazes e inteligentes (aliás, ó o que basta para ser piloto).
Eu tenho alguns filmes feitos nos anos 50 60 no Rio Grande do Sul e na Argentina, de corridas de carreteras. Era realmente emocionante essa prova típica de rua/estrada. O Fangio era um cultuador deste tipo de prova. Quando falamos em carreteras, lembramos dos Fords, dos Chevrolets, dentre outros, mas existiam DKWs, Gordinis, Fuscas dentre outras marcas e modelos. Mas a influência do carro-carretera no Rio Grande do Sul começou bem antes, lá nos anos 20 (nos anos 30 tinha um Ford 4 cc muito legal, com o Mickey pintado na porta, pilotado pelo grande volante Norberto Jung - onde foi parar esse carro? Esse carro fez parte do Raid Montevidéu-Porto Alegre em 1934).
A história começa a pegar fogo (literalmente) em 1943, com a prova realizada com carros equipados com gasogênio. Foi organizado pelo Touring Club e pelo jornal local Folha da Tarde uma prova no Circuito do Cristal (18/o7/43) - era uma prova com motivos patrióticos... sei, sei. Só sei, que depois desta prova o Automóvel Clube Brasileiro instituiu um Campeonato Brasileiro de Gasogênio. Na primeira prova foram 24 carros inscritos (não havia número impar estampado, somente números pares - ex: o 2 era o carro do Dr. José Giorgi de Bento Gonçalves, o 4 era do Guaraci Almeida Costa de Passo Fundo, o 6 (alias o único carro a lenha), era do Ari Burlamaque de Passo Fundo, e por ai vai (o Caetano era o 10, o Júlio Andreatta era o 14, o Catharino Andreatta era o 24). A largada foi às 8 horas, com previsão de 15 voltas, perfazendo um total de 225 kms - nunca houve tantos inscritos, e a corrida foi assistida por 30 mil pessoas (isso na década de 40!). O Catharino ganha a prova com seu Ford-Gasogênio Rimoli (o José Rimoli era amigo dele), com uma média de 76,26 kph (nada mal para uma lareira ambulante). Em 10 de setembro de 1944, volta a ganhar com o Rimoli no mesmo circuito. No Campeonato Brasileiro de Gasogênio, o Catharino ficou em segundo e o Chico Landi ficou em primeiro. Após a guerra, o Catharino assume a posição de primeiro piloto da Escuderia Galbo Branco. E a partir dai meus caros, que as carreteras ganham força e visibilidade.
Nesta nova fase - pós-guerra - o crescimento do uso de carreteras, superou em muito a previsão da época, pena que alguns dos pioneiros não pudessem partilhar deste desenvolvimento, como o volante gaúcho Norberto Jung, que ao se acidentar no trânsito (com seu carro "normal"), perdeu o braço esquerdo (seguiu no automobilismo, apenas como delegado do ACB (Automóvel Clube do Brasil). A lista de pilotos (volantes) no Rio Grande do Sul era grande e recheada de gente brava: Em Porto Alegre destacava-se o Breno Fornari, Alfredo Ribeiro Daut, Aldo Costa, Lupiscínio Vieira e Gabriel Cucchiarelli;
Estes caras corriam nos circuitos da Avenida Farrapos, Parque da Redenção (3kms por volta), Pedra Redonda e Cavalhada-Vila Nova (todos em Porto Alegre) - isso sem falar
O Classic Car Club do Rio Grande do Sul, deveria reviver pelo menos um circuito destes - não sei bem como está a estrada ou a paisagem e infra, mas reviver a Copa RGS seria interessante. Essa Copa tinha como trajeto Porto Alegre-Passo Fundo-Porto Alegre (eram dois dias: Porto Alegre, São Leopoldo, Nova Petrópolis, Caxias do Sul, Vacaria, Lagoa Vermelha e Passo Fundo - depois - Passo Fundo, Marau, Casca, Guaporé, Bento Gonçalves, Farroupilha, Feliz, São Sebastião do Sul do Caí, Porto Alegre). Essa prova teve como grande figura o "Leão da Serra" Alcidio Schroeder - tinha no seu Ford a figura do "Amigo da Onça" pintada.
Esses gaúchos (quase todos de origem italiana, para o desespero do Leke), ainda vieram para São Paulo e deram pau em 1956 nas primeiras Mil Milhas em Interlagos - das 31 duplas inscritas, 13 eram do Rio Grande do Sul (14 de São Paulo, 3 do Paraná e 1 de Santa Catarina). A prova foi vencida pela dupla gaúcha Catharino e Breno com um Ford de número 2 da Escuderia Galgo Branco (em segundo chegaram os paulistas Christian Heins e Eugênio Martins, com um VW-Porsche, sendo espremidos pela carretera da dupla Bertuol e Rebeschini). Era uma verdadeira Legião de Gaúchos! Essa Legião voltou no ano seguinte, na trágica Mil Milhas de 57 (eram 23 duplas paulistas contra 13 gaúchas). O Chico Landi teve que parar porque suas lanternas traseiras estavam apagadas. Teria que parar em até 5 voltas, mas parou na nona. Vários cavalos atravessaram a pista - numa destas vezes, o Pessolato desviou a sua carretera e bateu no barranco, vindo a falecer. O Santilli, também quase capotou ao atropelar outro cavalo (pegou de lado na sua carretera). O Chico Landi ganha a prova numa recuperação incrível, but... a Legião de Gaúchos chia e faz festa para a dupla segunda colocada (Bertuol/Menegaz)... para a terceira colocada (Catharino/Diogo)... e para a quarta colocada (Júlio/Dirceu Oliveira). Houve muita confusão, tapa, chute, soco e no meio da madrugada a Comissão Esportiva dá a vitória ao Bertuol e seu companheiro. Mais porrada!!! O resultado oficial confirmando a vitória da dupla gaúcha, saiu somente 3 dias depois. Em 58 Catharino e Breno ganham a prova e em 59 também (dupla Catharino e Breno - Time Galgo Branco). Os paulistas ganham em 60 e em 61 (no declínio das carreteras), a dupla de Ítalo/Menegaz com a carretera Chevrolet-Corvette número 9, chega 12 segundos a frente do Heins, marcando um recorde de velocidade para a prova (108kph). As carreteras ainda corriam pelo interior do Rio Grande do Sul e participavam de provas importantes, como os
Depois de eu postar esse artigo, o volante Oscar Leke - que conhece como poucos, a história das carreteras no Rio Grande do Sul, me manda outras fotos e algumas informações, dentre elas a que Fangio venceu o Primeiro Grande Prêmio Getúlio Vargas em 1941, e que no Segundo GP os gaúchos (ítalo-gaúchos), venceram de ponta a ponta numa excpcional façanha da dupla Julio Andreatta e Aristides Bertuol.
Carretera que atropelou um outro cavalo - Djalma Pessolato morreu no acidente
Fotos recentes em Passo Fundo
Carretera do Camilo - inspiração gaúcha
Carreteras em Passo Fundo
Volantes Gaúchos
A Volta das Carreteras
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