Historic Rallye - The most essential item of equipment is a sense of humour!

31.10.06

Recomendações para um rallye...

Recomendações para futuros Rallyes

Geralmente é uma aventura participar de um rallye com carro histórico, mas é uma aventura controlada até certo ponto, pois, sabemos como o veículo está e como se comportará. Quer dizer, alguns sabem...

Já fui participar de um rallye em Punta, no Uruguai, e na ocasião saímos de Porto Alegre em direção a tal cidade uruguaia (+/- 1.000kms). Dentre os carros clássicos, havia 2 Porsches, 1 Volvo 122, 2 Alfa-Romeo Spider, 1 Landau, 1 Puma DKW e 1 Puma GT. Metade deste povo não levava ferramentas...

No rallye de regularidade, a tensão aumenta para se manter com o pé no acelerador, na velocidade estipulada no Livro de Bordo (isto sem contar com o nervoso que se passa com os erros do navegador - eu tive um navegador carioca, que sempre encontrava um meio de pegar a Dutra e seguir em direção ao Rio). Nunca, repito, nunca se deve fazer rallye (seja de velocidade, seja de regularidade), ou com parente ou com a sua mulher ou marido. Esta regra quase sempre não é seguida (apesar de que com o chefe, também, não se deve fazer tal competição: certa feita um banqueiro, se cansou das ordens do navegador e disse: "eu não estou acostumado a seguir ordens, portanto, vai com calma e não me irrite").

É inevitável ouvir de "parentes competidores" a seguinte observação após um fungar de nariz: "Está cheirando a queimado - é o seu carro" (isso não é uma pergunta e sim uma afirmação). Mesmo que não esteja acontecendo nada neste sentido, todo o antigomobilista somatiza estas situações - portanto o cheiro de algo queimando passa do virtual para a realidade. O pior é o seguinte: Geralmente a sua mulher não tem noção de quanto você gasta no seu carro. Ela sabe que é muito, mas não tem noção. Se você está fazendo o rallye com ela, e de repente você começa a sentir que o carro está fervendo e ela não para de falar, você automaticamente vai dirigindo o seu corpo teso, com a coluna vertebral ereta, para a beira do banco - prestando uma atenção enorme nos instrumentos e nos barulhos estranhos - nesta hora você deve manter a calma (mas isso parece impossível). É neste momento que ela pergunta: "Tem alguma coisa estranha?"; "Este carro vai quebrar?"; "Você não gasta uma fortuna para manter esta ximbica, e ela está quebrando?".

Estas perguntas, dignas de uma justificativa de homicídio, vão fazendo você apertar o volante, até o ponto que consegue extrair algum tipo de suco (por isso os volantes dos carros ingleses, tem "morrinhos" para seus dedos). Você está no meio de um trecho cronometrado, a temperatura subindo, o marcador da temperatura já se alojou no fundo do instrumento, isso sem contar que seus óculos ficam embaçados e sua visão turva. O perigo aumenta com a frase: "Voltou o cheiro de queimado!”

Isso sem contar que, as malas vão dentro do carro, pois, no porta-malas a bagagem sofre os efeitos do cheiro da gasolina. E os agregados então. Num rallye internacional no Sul do Brasil, presenciei uma cena curiosa: na minha frente iam piloto e sua navegadora (que por acaso era sua mulher). No banco de trás, vinham seus dois filhos. Eu via em determinado momento, a navegadora gesticular para o piloto (seu marido), e para seus filhos. Esta navegadora abandona a marcação do rallye e no trecho de neutro, enrola o livro de bordo e dá várias e várias bordoadas na prole (deve ter sobrado para o piloto também). Quando parei atrás dele no neutralizado, me deparei com a seguinte cena: o piloto bufando e ainda segurando o volante com toda a força que lhe restava; a navegadora com os olhos mareados tentando colocar com as mãos trêmulas, as pilhas na calculadora que voaram; a prole estava emersas num silêncio sepulcral e com os olhos fixados para frente, sendo que um deles - agora com um vergão vermelho no braço - segurava uma página do livro de bordo rasgada...

Um ralizeiro já falecido, deixa a sua mulher no posto onde parou no deslocamento e só depois de alguns minutos, notou que ela já não o acompanhara. Até encontrar um trecho de retorno (a quilômetros à frente), a sua mulher sentindo-se abandonada, pega carona com outro competidor, mas sem avisar o marido. A minha mulher, então, se sentido o máximo, no último rallye internacional na Região dos Vinhos, falou para a TV Globo, que quem importava na verdade num rallye de regularidade era a navegadora. Diante disso a emissora coloca no banco de trás de meu carro, um cinegrafista. Dá-se a largada, ela vai me orientando e fazendo pose para as lentes. 15 quilômetros a frente, ela diz baixinho: "
ops - errei"! Em rede nacional - miseravelmente 15 milhões iriam assistir aquele vexame. Fiz a curva e tentei recuperar o terreno e a cronometragem. O cinegrafista desistiu de filmar e com uma não no teto e outra no meu pescoço, dizia numa voz tremula: "Vai manso mano!", sendo que minha mulher esquecendo o seu erro afirmava: "vai devagar - quer se mostrar é?!" - "Leva ele para o Faustão!".

Os parentes indiretos ou colaterais, também, não são uma boa alternativa: Uma vez a minha cunhada, que não sabia navegar, mas de tanto inssssssssssistir eu a "acolhi" e tentei explicar como funcionava um rallye de regularidade, num dos rallyes de Campos do Jordão. Dentro de um MG Midget, este "ente" além de confundir direita com esquerda (alguns seres humanos ainda confundem), quando chegamos no sul de Minas Gerais, num bar de beira de estrada para aguardar o neutralizado, leu na planilha: "Zere". O que ela fez: Zerou os dois cronômetros e pediu o meu cronômetro de reserva - e zerou também - afirmando: "Pronto, zerei tudo, agora vamos tomar um cafezinho". Fiquei em choque... Resultado: Deixei a minha cunhada lá com os mineiros (depois me arrependi e voltei para buscá-la).

A primeira atitude que se toma ao fazer um rallye com carro conversível é saber da condição do tempo. Já vi um casal que foi ao Rio Grande do Sul em Canela/Gramado para um rallye e só trouxe roupa de verão. A mulher tremia sob o seu "top", mal conseguindo segurar o livro de bordo e o cigarro no canto da boca, e o marido, então - fingindo não sentir frio - desceu do seu carro, para se espreguiçar com um belo short Nike laranja (aquele com abertura lateral), com os pêlos da perna todos em pé e os joelhos na cor rósea, afirmava: "o frio daqui é seco, a gente nem sente" (diante de uma platéia toda agasalhada). Outros, não sentem o sol e depois de uma média de 250kms de rallye, saem do carro como se fossem um patchwork (tipo MUG lembram?). Aliás, outra coisa que não deve se fazer em rallye é como direi: praticar flatulências em carro conversível, porque, o resultado não se evapora no ar, pelo contrário fica rodando dento do cockpit (tinham dois primos que passaram por esta experiência algumas vezes). E finalmente, não faça rallye com veículo conversível se você utiliza peruca. Já presenciei o boné com a ação do vento, tirar uma peruca de um piloto. Sua mulher ao perceber o evento danoso, jogou o livro de bordo pelos ares e segurou o apetrecho - "endireitando-o". Ao passar por tal veículo notei que o boné havia sido "fixado" (por assim dizer), de lado na cabeça (tipo Chaves), e a peruca acompanhando este desmanche. Situação delicada...

Isso tudo, para mostrar os seguintes filminhos, onde fica patente que todo o cuidado em rallyes de carros clássicos, é pouco:









Mesmo nos rallyes mais modernos, o carro precisa estar, também, preparado:



Luis Cezar

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