A Abarth era uma preparadora e montadora (antes meus caros eles faziam escapamentos)... os Kits de Tuning eram vendidos, principalmente para os carros Fiat. Os carros de competição, tanto em pista, como em rallies, também tiveram o privilégio de montar carros de alta performance para as marcas Porsche e Simca - tudo isso antes de ser vendida ou comprada pela FIAT em 1971 (o Enzo Osella comprou o time de competição - diga-se - o passe dos engenheiros, mecânicos, etc.). Com a compra da Abarth pela Fiat, aquela se transformou em departamento de competições desta. Nesta época foram feitos carros fantásticos de corrida em pista e de rallye... Mas vamos hoje falar dos Simca-Abarth 1000 ou melhor 1150, 1150S e o 1150SS - versões modificadas pela Abarth do Simca 1000 (versão Rallye) - todos com 1.137cc, que eram conhecidos como Rallye 1, Rallye 2 e Rallye 3.
Verdade: havia um interesse grande da Abarth em se unir em condições iguais com uma montadora, e a Simca caia como uma luva nestas pretensões. Por outro lado, a Abarth escolheu o Simca 1000 como seu próximo projeto, em parte porque era mais novo do que os Fiats 600 e 500 (introduzidos em 1955 e 1957, respectivamente). Outra razão é que, quando se introduziu o Simca 1000 em 1961, este se tornou imensamente popular no mercado francês (haviam alguns carros pequenos e com perfil baixo, que faziam sucesso como os Minis, os Austins, Zephyrs e os Impis, todos fabricados na Inglaterra). O Simca 1000 foi bem projetado, de confiança e com um centro de gravidade muito interesante, como ocorrera nos R8 e nos Alpines. A Abarth viu o mesmo potencial no pequeno Simca e começou a desenhar idéias. Com o sinal verde da Fiat (que criou a Simca em 1934 e ainda possuía o controle acionário na época), uma centena de carros foram enviados para a fábrica da Abarth em 1961, para serem modificados. Os carros estrearam na temporada de 1962 e foi uma campanha bem sucedida em corridas em toda a Europa.
Componente politico... o que pouca gente fala é que a Simca (Société Industrielle de Mécanique et Carrosserie Automobile), fora montada pela Fiat em 1934, com um sucateiro italiano residente na França Enrico Teodoro Pigozzi (que ficou no poder de 35 a 63 - morreu em 1964). A Simca teve um poder imenso - foi a única montadora a fabricar carros durante a Grande Guerra (na França ocupada, contudo, o Mussolini da Itália, protegia os interesses da Fiat). A Simca compra a Ford francesa, a Talbot e em 1970 passa para o controle da Chrysler Europe - terminando sua história em 78 (isso depois de ganhar em 1976 com o Simca 1307 e em 1978 com o Simca Horizon ganhar o European Car of the Year respectivamente), quando passou a atuar sob as ordens da PSA Peugeot Citröen (a PSA passa a Simca para a bandeira Talbot). Ou seja, a Abarth estava de olho neste embalo de poder.... E... apesar dos franceses... o Simca-Abarth é considerado um carro italiano. Sim Belo - Italiano e não Frances ou Franco-Italiano....
Abarth queria dar um passo adiante e fazer esses carros tunados por ela, disponíveis para ao grande público. Eles eram para ser parte da programação Simca e vendidos através de distribuidores Simca em toda a Europa. Em 1963, a Abarth introduziu quatro variantes do Simca 1000: 1150, 1150S, 1150SS e o 1150 Tipo Corsa. O padrão Simca 1000 usava um motor de 944cc, já a Abarth passou a motorização para 1137cc (o 1150 passou a ter 55hp). Outras modificações incluíam rodas de 13 polegadas, freios a disco nas 4 rodas, um tacômetro e um medidor de pressão de óleo. O 1150S viu sua potência aumentada para 58hp , mas a maior mudança pode ser vista só de olhar para ele: como em alguns Fiat-Abarth o radiador foi deslocado para a frente, que pediu a instalação de uma grade. O SS 1150 registrou 65hp e viu a sua taxa de compressão aumentada para 9,5:1 . A evolução final foi o 1150 SS Tipo Corsa. Graças, em parte, a uma taxa de compressão de 12:1, Abarth conseguiu 85hp, uma quantidade razoável quando se leva em conta que um padrão Simca 1000 tinha apenas 40hp.
Mas a guerra veio com o Renault 8 Gordini - nosso conhecido R8. Era uma concorrência direta, mas a produção ou os Simca 1000 revertidos em Abarth eram tidos como protótipos (!?)... a Chrysler quando assumiu a Simca, queria fabricar sedans maiores e... por consequência os Simca-Abarths são carros extremamente raros.
1300GT
1300GTO mais fantástico (eu acho), foi tirar de um motor de 1.300cc os 140bhp - a suspensão do Simca tinha uma semelhança com a do Porsche. Com esse carro a Abarth ganha o World Championship for Makes, no ano de 1962. O mais bonito desta leva foi o 1150 Corsa (produzido de 63 a 65). O 2 litros, tinha 202bhp de potência, ultrapassando o Porsche 904 em várias oportunidades na pista - aliás, ganharam o European Mountain Climb Challenge. Sobre o 1300GT e o de 2 litros falo abaixo, pois, tem uma história com o Brasil.
Claro que tinha o Abarth-Simca 1300GT, com 175hp, que atingia os 289kph.
Este modelo era um Coupé produzido pela Abarth, com 2 portas e 2 lugares designado de Simca-Abarth 1300 GT Corsa Coupe, comercializado a partir de 1964 até 1965. Pesava 647kg, equipado com um motor de 4 cilindros e 8 válvulas, produzindo uma potência máxima de 140 cavalos (138bhp - 103 kW) a 7.800 rotações. A caixa de velocidades tinha 6 mudanças, com tração traseira (RWD), atingindo uma velocidade máxima de (146 mph) 235kph. Tinha 2 Weber 45. Havia o modelo 2000, com um motor de 2 litros e com algumas poucas mudanças do 1300. O 2000 era um cupê com motor de 4 cilindros, que era impulsionado por 202bhp, atingindo fácil - fácil os 270kph - o mais legal era o local onde puseram o bocal da gasolina: no canto superior direito do vidro traseiro. O 2 litros foi fabricado em 1964.
Abarth e sua criação 1300GT
Mas... ai tem a história dos 3 Sinca-Abarths que vieram para o Brasil, para correr...
Era o modelo 2000
(apesar que não tinha aquelas entradas de ar laterais traseiras)
Simca-Abarth 2000
Eu trago alguns depoimentos sobre os Sinca-Abarths que aqui estiveram - em algumas fotos o modelo visto era o 1300GT e em outras era o 2000. Vamos ao depoimento de quem viveu a época:
Abarth Simca no Brasil
Seg, 03 de Dezembro de 2007 00:00 - Escrito por Napoleão Ribeiro
Forum sobre os Simca.
Fundada em 5 de maio de 1958, a Simca do Brasil logo se interessaria pelas corridas de automóveis, consideradas à época como grande poder de marketing para os fabricantes de automóveis. Em 1960 foi criada uma categoria de carros Turismo Nacional, mais conhecida como Turismo GEIA, sigla que significava Grupo Executivo da Indústria Automobilística, grupo criado pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek para implementação da indústria no país.
Desde a primeira prova, dessa nova categoria, ocorrida em Brasília, por ocasião da inauguração da cidade, a Simca começou a participar embora, sem formar uma equipe devidamente estruturada. A estruturação da equipe de competição começou nas Mil Milhas disputadas em 26 de novembro de 1961, quando três Simca Chambord pintados de vermelho e pilotados por Ciro Cayres/Danilo Lemos; Waldemyr Costa/Waldemar Costa Fº; e Jayme Silva/Lauro Bezerra participaram da prova. Ciro Cayres chegou ocupar o segundo lugar, na parte final da prova, logo atrás do Corvette de Orlando Menegaz/Ítalo Bertão, que venceria a prova, mas problemas no filtro de óleo fizeram-no abandonar a corrida faltando menos de 20 voltas para o seu término.
Tendo George Perrot como Chefe do Departamento de Competições e Ciro Cayres e Jayme Silva como principais pilotos, a equipe passou a disputar regularmente as competições a partir de 1962, entretanto os carros fabricados no Brasil não eram os mais indicados para competição e, com exceção da vitória obtida pela “Carretera” de teto rebaixado nos 1600 Km de Interlagos de 1963, os resultados não eram dos melhores. A partir de 1962 as principais corridas nacionais passaram a ser disputadas por carros Turismo e Grã-turismo nacionais e importados e os Interlagos, da equipe oficial da Willys, dominavam amplamente o automobilismo nacional.
Em 1964 começaram a ser importados novos carros. Primeiro foi o Porsche Carrera 2 de Marivaldo Fernandes; logo depois foi uma Alfa Romeo Giulia TIS de Piero Gancia; e em seguida um Fiat Abarth 850 TC de Eugênio Martins e Paulo Goulart. A chegada desses novos carros, além de ameaçar a supremacia dos Interlagos, deixava os Simca em grande desvantagem. Diante desse quadro, George Perrot convenceu o Presidente Jacques Pasteur a montar uma equipe realmente competitiva.
Tempestade
O primeiro passo foi construir um protótipo com mecânica do Simca nacional, a partir do chassi da Maserati 250F de Ciro Cayres, chamado de Simca TGT, que mais tarde seria conhecido como “Tempestade”, numa alusão às dificuldades de condução e ao Simca Tufão. Paralelamente à construção do protótipo, Ciro Cayres e George Perrot foram para a França comprar três Abarth Simca 2000, carro esportivo que tinha sido lançado recentemente e que começava a ter seu desempenho destacado no automobilismo europeu.
Os Abarth eram carros muito bem construídos pelo renomado preparador de carros de corrida italiano Carlo Abarth. Com carroceria tipo berlineta, rodas de liga leve, novidade para a época, motor com cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, 2000 cm³, câmbio de 4 ou 6 marchas, tinha tudo para tornar-se sucesso no país. Foram trazidos para o Brasil três desses carros, os chassis nºs 136/0080, 136/0085 e 136/0090, na condição de carros de teste, ou seja, deveriam permanecer no país por um determinado tempo e depois disso retornarem à origem. Desde sua chegada, os carros foram envolvidos em polêmica sobre a forma como foram trazidos e a liberação alfandegária somente foi possível mediante liminar judicial. A questão se transformou em uma “marca” que pesou sobre os carros durante o período de pouco mais de um ano que permaneceram no Brasil. Muitos atribuem essa dificuldade a manobras da equipe Willys, que na época estava importando, para substituir o Interlagos, três Alpine A-110 com motor do Renault R-8 de 1.100 cc e que, com a vinda dos Abarth, teriam poucas chances.
Os Abarth estrearam nas 3 Horas de Velocidade, em Interlagos, no dia 30 de agosto de 1964. O carro de Ciro Cayres se apresentou com câmbio de 6 marchas e o de Jayme Silva de 4 marchas. Durante a corrida o que se viu em Interlagos foi um “passeio” dos dois carros vermelhos da equipe Simca. Ciro se manteve à frente, mas faltando cerca de 10 minutos para o final da corrida, teve que parar nos boxes para reparar as luzes traseiras que tinham apagado. Perdeu 3 minutos parado e a liderança para Jayme Silva no outro Abarth. Na última volta, Jayme Silva quase parou o seu carro no retão para esperar seu companheiro de equipe e receberem a bandeirada de chegada lado a lado, com ligeira vantagem para Jayme. Os Interlagos demonstraram que não tinham a menor chance contra os novos carros da Simca. Nem Bird Clemente, com um desempenho próximo da perfeição, foi capaz de oferecer a mínima oposição, conseguindo apenas ficar na mesma volta dos líderes.
Uma semana depois os Abarth se apresentavam para a disputa dos 500 Km de Interlagos. Dessa feita os dois carros estavam equipados com câmbio de 4 marchas e pilotados por Jayme Silva e Fernando “Toco” Martins. Ciro Cayres preferiu competir com o Simca protótipo ao lado de Ubaldo Lolli, devendo se revezar também no Abarth de “Toco”. Jayme Silva liderou a prova com grande facilidade até parar na 18ª volta com a quebra da transmissão. “Toco” assumiu a liderança sendo substituído por Ciro Cayres ao final da prova. Luiz Pereira Bueno foi o segundo colocado com três voltas de desvantagem para o vencedor enquanto que Bird Clemente, com um balancim do motor do seu Interlagos quebrado, foi apenas o quarto colocado.
Em novembro a equipe Simca ganhou um novo reforço: a contratação de Chico Landi para chefiar a equipe. A estréia de Landi aconteceu em 29 de novembro por ocasião da disputa da prova “6 Horas de Brasília”. Foi uma prova tecnicamente muito pobre com a participação de apenas onze carros, entre eles os dois Abarth e o Simca Tempestade. Com toda essa facilidade, Chico Landi resolveu promover a vitória do carro nacional e com isso, apesar da superioridade dos Abarth, o vencedor acabou sendo o Simca Tempestade de Ciro Cayres e Ubaldo Lolli. Curiosamente, durante a prova, Jayme Silva chegou a parar seu carro no circuito, comprar e saborear um picolé, enquanto aguardava ser ultrapassado pelo carro de Ciro, para depois retornar.
Se o sucesso do carro nas pistas era total, as dificuldades burocráticas quanto à permanência no país continuavam. Independentemente disso, os Abarth se apresentaram novamente em Brasília, em abril de 1965 para a disputada da prova de 12 Horas. Prevista para acontecer na madrugada de sábado para domingo, a corrida somente foi realizada de segunda para terça-feira depois de uma luta judicial entre o Automóvel Clube do Brasil e a Confederação Brasileira de Automobilismo. Durante a prova os dois Abarth não tiveram adversários e se impuseram aos demais participantes, ocupando os dois primeiros lugares durante a primeira hora de corrida, quando o carro de número 44 começou a enfrentar problemas com o dínamo (naquela época ainda não existiam os atuais alternadores de voltagem nos carros), sendo obrigado a parar constantemente para trocar a bateria.
Quando o dia clareou, sem precisar dos faróis, a bateria passou a ser menos exigida e com isso o Abarth começou sua recuperação, quebrando constantemente o recorde de volta. Porém acabou terminando a prova na terceira posição. O vencedor foi o Abarth de Jayme Silva/”Toco” Martins, o segundo colocado o Interlagos de Wilson Fittipaldi Jr./Bird Clemente/Luís Pereira Bueno/José Carlos Pace com cinco voltas de atraso e, o terceiro, o Abarth de Ciro Cayres/Ubaldo Lolli, uma volta atrás.
Jayme Silva na saída do S da Barra da Tijuca - 1964
No dia 16 de maio os Abarth estavam presentes aos “500 Km da Guanabara”, prova disputada no circuito da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Mais uma vez, no carro nº 26 estavam Jayme Silva/Fernando “Toco” Martins e no nº 44 Ciro Cayres/Ubaldo Lolli. O Simca TGT seria conduzido por Ciro Cayres/Jayme Silva/Pedro Jaú. Na corrida estavam presentes os novos DKW Malzoni e o Alpine A-110, ainda equipado com motor de 1.100 cc. A largada aconteceu debaixo de chuva e, ao final de quase 4 horas e meia de corrida, para surpresa geral, o vencedor foi o Simca TGT, ficando o Abarth nº 26 em segundo, duas voltas atrás. O 44 abandonou com seu crônico problema de transmissão.
Uma semana depois foi disputada a prova 12 Horas de Interlagos. Nessa corrida o Abarth de Jayme Silva/Fernando “Toco” Martins, mesmo sofrendo com os buracos da pista de Interlagos, manteve a sua superioridade, enquanto que o carro nº 44 sucumbia com a suspensão quebrada.
Em 6 de junho os dois Abarth foram levados para disputar a II Etapa do Campeonato Carioca no circuito da Ilha do Fundão. Com apenas 6 carros na prova, registrou-se a vitória do carro nº 44 de Ciro Cayres. Dessa vez foi o nº 26 que apresentou problemas de transmissão e teve que abandonar.
No dia 20 de junho de 1965 foi disputada a prova “6 Horas de Interlagos”. Essa competição era disputada em três baterias de duas horas com a soma dos tempos indicando o vencedor final. A primeira bateria foi, como de costume, totalmente dominada pelos dois Abarth com Ciro Cayres chegando em primeiro e Jayme Silva em segundo. Embora tenha liderado a maior parte da segunda bateria, Ciro Cayres acabou abandonando com cerca de uma hora de corrida com problemas de transmissão. Assim, Jayme venceu as duas baterias à frente de um ameaçador DKW Malzoni pilotado por Marinho Camargo.
Circuito da Barra 64
Em 1965 o terceiro Abarth da equipe foi modificado, se nacionalizando com a substituição do motor original por um motor do Simca Tufão brasileiro. Segundo nos informou Fernando “Toco” Martins, o presidente da Simca do Brasil, Jacques Pasteur, não queria que os três carros corressem juntos e a forma de colocá-los para correr era efetuando sua modificação para competir na categoria de protótipos. Imaginem a dificuldade para substituir um motor 4 cilindros por um V-8, embora de baixa cilindrada, mas que ocupava, evidentemente, mais espaço que o original. O câmbio foi substituído por um de Volkswagen e a frente ganhou uma abertura maior para permitir melhor refrigeração.
Simca Abarth 26 - Jaime Silva - Rodovia do Café - 1965
A estréia do carro aconteceu no dia 15/08/1965 no “GP Rodovia do Café”, prova organizada por ocasião da inauguração da rodovia que ligava Curitiba a Apucarana, no Paraná. Disputada em duas etapas, a ida de Curitiba a Apucarana e o retorno, cada uma com pouco mais de 350 quilômetros, teve a participação dos dois Abarth Simca 2000, do Simca TGT e do Abarth Tufão que foi pilotado pelo Chefe do Departamento de Competições da fábrica George Perrot. No trecho de Curitiba/Apucarana, disputada debaixo de chuva, os dois Abarth Simca deram um show de velocidade, com Jayme Silva em primeiro e Ubaldo Lolli em segundo e o Simca TGT em terceiro. O Abarth Tufão foi apenas o 35º, tendo parado diversas vezes durante o percurso. Na volta, enquanto Jayme vencia com média de 160,646 km/hora, Ubaldo Lolli abandonava no quilômetro 140 com a quebra da transmissão. Na soma dos dois trechos, Jayme ficou em primeiro e Ciro Cayres, no Simca TGT, em 2º. George Perrot com o Abarth Tufão enfrentou diversos problemas, mas mesmo assim terminou a prova na 25ª colocação.
Com o prazo de um ano de permanência dos carros no país vencido, o fisco apertou o cerco. Com isso, no Circuito de Vitória, disputado na Capital Capixaba, apenas o Abarth de Jayme Silva, mediante liminar, esteve presente e venceu a prova, como sempre com grande facilidade, ficando Ciro Cayres em segundo no Simca Tempestade (TGT).
Para a prova, que seria considerada a mais importante do ano, o “GP do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro”, disputada no circuito da Barra da Tijuca no dia 19/09, os carros somente foram liberados na véspera, novamente mediante liminar judicial. Assim se apresentaram para a largada os três Abarth: os dois com motor 2000 e o equipado com motor Simca Tufão. A principal atração da prova foi a Ferrari 250 TR, com carroceria modificada por Piero Drusio, na Itália, para GTO-Drogo, que seria pilotada por Camillo Christófaro. Camillo largou na pole-position enquanto que os carros da Simca largavam nas últimas posições entre 40 carros, pelo fato de não terem participado dos treinos de classificação. Jayme no carro nº 26 e Ciro no nº 44 logo se juntaram à Ferrari e os três passaram a disputar as primeiras colocações da prova. “Toco” no Abarth Tufão vinha escalando o pelotão e já estavam bem posicionado porém, acabou capotando na curva do Corsário e ficou fora da prova. Na 34ª volta Ciro teve que abandonar, com o flexível do óleo rompido e com isso Jayme liderava com confortável vantagem sobre Camillo até que, faltando 3 voltas para o final, o Abarth perdeu uma roda dianteira, entregando a vitória para a Ferrari de Camillo Christófaro.
A despedida dos Abarth das pistas nacionais aconteceu no dia 31 de outubro com a disputa dos “500 Km de Interlagos”. Mais uma vez os carros só foram liberados pela justiça na véspera da corrida comparecendo para a largada no domingo apenas o Abarth Simca 2000 de Jayme Silva e o Abarth Tufão com Ciro Cayres, ambos largando nas últimas posições. Rapidamente os dois carros escalaram o pelotão com Jayme assumindo a liderança e Ciro Cayres abandonando depois de 12 voltas, quando ocupava a 3ª colocação e se aproximava da Maserati de Ubaldo Lolli, que ocupava o segundo lugar. Jayme Silva manteve a liderança até o final da prova.
Finalmente o representante da Simca firmou compromisso com a alfândega para que os carros retornassem à Europa. Nessa época a Chrysler estava assumindo o controle acionário da Simca do Brasil e não demonstrou interesse em manter os carros no país. Chico Landi ainda tentou uma jogada fazendo com que um piloto peruano se interessasse pelos carros tentando embarcá-los para aquele país para depois retornarem ao Brasil. Entretanto, a manobra não deu certo e os carros foram parar num porto italiano onde permaneceram por longo tempo até serem resgatados por um colecionador.
500 km de Interlagos de 65
RELAÇÃO DAS PARTICIPAÇÕES DOS ABARTH SIMCA EM CORRIDAS NACIONAIS:
- 30/08/1964 - 3 Horas de Velocidade - Interlagos - 26 - Jayme Silva - 1º / 44 - Ciro Cayres - 2º
- 07/09/1964 - 500 Km de Interlagos - Interlagos - 62 - Fernando Toco Martins/Ciro Cayres - 1º / 26 - Jayme Silva - AB
- 29/11/1964 - 6 Horas de Brasília - Brasília - Jayme Silva/Fernando Toco Martins - 2º / 44 - Fernando Toco Martins/Marivaldo Fernandes - 3º
- 26/04/1965 - 12 Horas de Brasília - Brasilia - 26 - Jayme Silva/Fernando Toco Martins 1º / 44 - Ciro Cayres/Ubaldo Lolli - 3º
- 16/05/1965 - 500 Km da Guanabara - Rio de Janeiro - 26 - Jayme Silva/Fernando Toco Martins - 2º / 44 - Ciro Cayes/Ubaldo Lolli - AB
- 23/05/1965 - 12 Horas de Interlagos - Interlagos - 26 - Jayme Silva/Fernando Toco Martins - 1º / 44 - Ciro Cayres Ubaldo Lolli - AB
- 05/06/1965 - Campeonato Carioca, Ilha do Fundão - 44 - Ciro Cayres - 1º / 26 - Jayme Silva - 4º
- 20/06/1965 - 6 Horas de Interlagos - Interlagos - 26 - Jayme Silva - 1º / 44 - Ciro Cayres - AB
- 15/08/1965 - GP Rodovia do Café, Curitiba-Apucarana-Curitiba - 26 - Jayme Silva - 1º / 44 - Ubaldo Lolli - AB / 83 - George Perrot (Abarth Tufão) - 25º
- 08/09/1965 - Circuito de Vitória - Vitória, ES - 26 - Jayme Silva - 1º
- 19/09/1965 - GP IV Centenário do Rio de Janeiro - Rio De Janeiro - 26 - Jayme Silva - 4º / 44 - Ciro Cayres - AB / 83 - Fernando Toco Martins (Abarth Tufão) - AB
- 31/10/1965 - 500 Km de Interlagos - Interlagos - 26 - Jayme Silva - 1º / 83 - Ciro Cayres (Abarth Tufão) - AB
DEPOIMENTO DO JOSÉ FERNANDO LOPES MARTINS o “TOCO”
Os Abarth chegaram ao Brasil e ficaram mais de uma semana parados. Isso porque eles traziam afixados nos pára-brisas um papel dizendo que não tinham água, óleo, etc. e o Pasteur não deixou ligá-los enquanto não falassem com a Itália, pois tinha empregado uma grana nos carros e não queria correr nenhum risco.
A primeira prova foram as 3 Horas de Velocidade, porque naquela época uma semana antes tinha as 3 Horas e no dia 7 de setembro os 500 quilômetros. Como não fizemos a classificação, alinhamos nas últimas posições, o Jayme no carro com 4 marchas e o Ciro no de 6. Os carros eram novidade e o pessoal da Willys, o Bird, o Wilsinho, o Luís Pereira Bueno, veio conhecer a novidade um deles olhou e disse: - “bonito hein, pneusão, esse carro pode ser que, depois de 3 horas, vocês alcancem a gente, mas isso já no finzinho da corrida”. Na primeira, já na curva 2 nós estávamos grudados neles e no retão passamos e parecia que eles estavam parados. Vencemos com folga. Nos 500 Km nós largamos na frente, o Jayme no carro de 6 marchas e eu no de 4. O Jayme quebrou o disco hardy, que era utilizado nos Abarth, pois naquela época não existiam homocinéticas e a ligação do diferencial para as rodas era feita através desses discos. Então eu venci a prova. O Ciro deu poucas voltas e me devolveu o carro para que eu recebesse a bandeirada.
Os carros eram fantásticos e não fariam feio hoje em dia, Naquele tempo só perdemos de verdade uma corrida para a Ferrari do Camillo e isso porque os dois carros quebraram, o Ciro com o rompimento do flexível do óleo e o Jayme porque perdeu uma roda. As outras duas derrotas foram montadas para que a Perereca vencesse e os Abarth chegaram logo atrás.
Vieram três carros, todos com motor 2 litros, mas o Pasteur não permitia que os três corressem. Queria apenas dois com o terceiro ficando de reserva. Então o Chico Landi o convenceu a modificar um dos carros, colocando um motor do Simca Tufão nacional. Ele aprovou e então mandamos brasa. Tiramos o motor e câmbio do Abarth, instalamos o do Tufão e, como o câmbio do Abarth não funcionava com o motor do Tufão, tivemos que adaptar um câmbio de VW. Eu corri com esse carro na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, na prova em que a Ferrari do Camillo acabou vencendo. Nós fomos para o Rio, mas não tivemos tempo de testar adequadamente o carro. Nós o testamos rapidamente na Anchieta e o motor virava bem. Chegamos no Rio no sábado à noite e a corrida era no domingo de manhã. Então foi feito o sorteio de quem iria para cada carro e o Abarth Tufão caiu para mim. Nesse ponto o Chico Landi sempre foi muito correto e justo e não dava vantagem para ninguém, sorteava e acabou: “você vai com esse carro, você com aquele”, etc.. Antes da largada eu falei para o Chico: - “Vai me dando o lugar que estou para ter uma idéia e então forçar ou não o carro”. Bem, na primeira volta eu passei um monte de carros. O Abarth Tufão andava bem na reta da praia, mas tinha um problema na curva em “S” do Corsário: a terceira era curta e a quarta longa e aí eu perdia muito tempo. Decidi fazer a curva em quarta e sempre que passava pelo boxe sinalizava para o Chico pedindo a minha colocação, mas ele não informava. Recordo-me de ter passado o Bird, o Wilsinho, o Lameirão, mas faltava o Luís Pereira Bueno e continuei pisando firme em busca do piloto da Willys. Eu estava próximo do Marinho e, além dele achava que só faltava o Alpine do Pereira Bueno para ficar logo atrás dos outros Abarth e da Ferrari do Camillo, mas o Chico não me informava em que lugar eu estava. Fui me arriscando e acabei derrapando na curva do Corsário, o carro apoiou na areia e acabou virando. No acidente a manga de eixo entortou e não pude continuar. Quando cheguei nos boxes, perguntei ao Chico em que lugar estava e ele me disse que era quinto atrás dos dois Abarth, da Ferrari e do Marinho. Então perguntei: - “E o Pereira Bueno?” O Chico disse que ele tinha saído da pista logo na primeira volta e que estava muito atrasado. Foi então que percebi que tinha me arriscado à toa e com isso ficado fora de uma corrida em que poderia terminar muito bem classificado.
*Os Abarth estão em Los Angeles e participam de corridas de carros antigos. O Julinho Penteado esteve por lá e fotografou os carros que estão do mesmo jeito, vermelhos com as faixas e tudo o mais.
JOSÉ FERNANDO LOPES MARTINS “TOCO”.
Depoimento prestado em janeiro de 2007.
*Essa história do Julio Penteado tirar fotos dos Simca-Abarths nos EUA - não é garantia de que sejam os mesmos que aqui correram (eu acho que 80% dos Abarths são vermelhos - o meu era azul claro e pintei de vermelho - kkkk), pois, não há comprovação do número do chassis - Pelo que sei isso não passa de especulação e - quem sabe - um engano do Julio... conforme Frederico Della Noce (quem tem Abarth sabe que ele é), dita que os 3 carros estão na verdade na Europa. O de Chassis 080, faz parte da Coleção Möll – Suíça; o de Chassis 085, faz parte da Coleção Grassi – Pádua – Itália; e o de Chassis 090, faz parte da Coleção Costa – Milão – Itália. O de Chassis 085 que recebeu de forma assassina um motor do Simca Tufão V-8, teve a sua traseira alongada (na restauração recebeu motor 2000 da Fiat, mantendo a modificação igualmente assassina da carroceria). Acho que o Julio Penteado "se equivocou" - aliás o Fred diz que estes carros nunca estiveram nos EUA, nem para exibição.
Fotos abaixo do Tempestade
Fotos dos Abarths
GP IV Centenário do Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1965, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário