Porsche 904 Carrera GTS

Porsche 904

Existem alguns carros, com grande histórico de corrida em pista e em rallye, que eu gostaria de comentar, mas uns são medonhos e outros são sem graça. But... eu insisto e, por vezes há um carro aqui, outro ali que são legais, apesar da sua pouca produção. Isso ficou claro por exemplo quando falei da Lola T70. Contudo, hoje conversando com meus amigos do MG Club sobre os Porsches 356 e 904 (principalmente com o Francisco Corazza - se não coloco o nome dele, ele fica bravo...), fiquei com vontade de escrever sobre o 904, mesmo porque, já dissequei o 356 em post aqui publicado - e também, me lembrei da surra que o 904 levou de um Mini-Cooper S em 1965 no rallye de Monte Carlo (a Porsche teve que esperar até 1968, para ganhar em Monte com o 911T - primeiro e segundo - seguidos pelos Minis em terceiro, quarto e quinto lugar) . O Porsche 904 é também conhecido como: Carrera GTS; ou 904 GTS; ou somente Porsche 904/6 - ou... 904/8 - e por ai vai.

Ferdinand Alexander Porsche, apelidado de "Butzi" ou "Butsi", no seu escritório, com um modelo do Porsche 904 (oficialmente foi o criador do 904 e do 901, conhecido depois como 911).

O 904 foi o primeiro Porsche feito em fibra de vidro, e com um desenho bem aerodinâmico (acreditem: não foi utilizado túnel de vento) - antes do lançamento do 911 (antes, digo, meses antes, pois, o 901 ou 911 foi lançado, também, em 1964) e dizem alguns (aliás, muitos), o 904 é muito, mas muito mais bonito do que o 911 (apesar de saírem das mãos do mesmo projetista - o tal do Ferry Butzi Porsche). Tinha um belo motor de 2 litros com 4 cilindros (a princípio) e com desenho típico de um GT puro sangue. Estas palavras não são minhas, apesar de endossá-las, mas do chefe do Departamento Esportivo da Porsche - Barão Huschke von Hanstein. Para quem já teve a oportunidade de ver de perto esse carro, ou entrar nele, ou até mesmo pilotar, jamais esquece (eu me lembro do volante, do compartimento do motor e do seu ronco, com picos de mais de 7.000rpm... "like war movie sound track"). Quem gosta de carro, tem um "Q" de bichice com esses detalhes.

Esse carro fez algo inédito: O povo que gostava do 356 não ficou com saudade dele... bom..., depois veio o 911! O desenho foi baseado no que a Porsche aprendeu com os racing Spyders, com os racing Carreras e com os racing Single Seaters - sendo o chassis feito com experiências tiradas de prova de endurance, como a Carrera Panamericana, 12 Horas de Sebring, 24 Horas de Le Mans e alguns rallyes como o de Monte. Veio dai a idéia de fazer um monocoque de fibra (foi desenhado pelo chassis engineer Schroeder e Ferdinand "Butsi" Porsche Jr. - sim, claro, neto do Dr. Ferdinand - as más línguas dizem que Carlo Abarth já tinha feito esse modelo ou algo parecido em 1958 - no mínimo tiveram uma influência do Abarth - vide o carro que veio depois do 550 Spyder - o Abarth Carrera GTL 1600 em 1960 - comumente chamado de Porsche 356B Carrera GTL - Zagato).

A cor oficial (que saia de fábrica) era prata metálico (silver) - mas, poderia pedir uma pintura especial (pintura especial eram todas as outras cores). A fibra era chamada de Pantal, fabricada pela BASF de Ludwigshafen, e modelada pela Heinkel (2 carros por dia era a produção). Era melhor e com uma sofisticação, não encontrada pelos carros feitos em fiberglass nos USA e UK - mas a qualidade pesava... é isso ai, nada é perfeito, até no Porsche. Ele saia um 1.710lbs (em Le Mans), mas a fábrica lutava para abaixar para 1.540lbs (e conseguiu) - o duro foi obter 1.360lbs para efeitos homologatórios da FIA. O motor era diferente, mas originário, do Super 90 e do 356SC (dizem que era uma mistura dos dois - carburador e comando de um, no frame de outro).

Num primeiro momento, foram fabricados 50 unidades na Áustria (os motores na Porsche) - era basicamente a mesma powerplant do Spyder e do Carrera 2 - com 180bhp a 7200rpm com 144.5lbs/ft com torque a 5000rpm. A suspensão era igual aos Porsches de Grand Prix, com a complacência da "mass production". Claro - freios a disco nas 4 rodas e... Spyders five speed - diverso do câmbio que foi instalado no 356. Pneus? 165-15 da Dunlop SP. Os instrumentos são VDO, claro, com conta-giros com 9000rpm, e marcação de 280kmh (190mph) - instrumentos mediam pressão do óleo, temperatura de óleo e medidor de tanque de combustível. Tinha muita warning lights, como para avisar se o ventilador do motor está desligado, se o gerador de energia está funcionando, luzes altas e luzes do faróis auxiliares, se as parking lights estão ligadas, temperatura da bomba de combustível, setas de pisca, além dos botões para acionamento dos faróis, limpadores, faróis auxiliares, farol traseiro (neblina), buzina (2: uma aguda para auto-pista e outra grave, para a cidade), ar forçado, ar quente e bomba de combustível auxiliar (sem esquecer que havia a possibilidade de ajustar coluna de direção e conjunto de pedais em 3 posições). Quando lançado, uma das 120 unidades custava US$7.425,00 - agora custa entre 400 mil a 600 mil Euros - já um dos 11 works feitos, foi vendido em 2006 por 850.000 Euros e em 2007, um outro foi leiloado para o Japão por US$ 1.500.000,00!!!

Porsche 904/8 GTS/2000 de Umberto Maglioli e Edgar Barth - sexto lugar

Na metade do ano de 1965 a FIA muda as regras de corrida, com a publicação do Appendix J, especificamente para o campeonato internacional de construtores. Agradou médio, eu e a grande maioria diria... principalmente para os espectadores. Os artigos 10 e 12 davam uma nova definição aos carros GT - agora chamados de Grupo 3 - e dai... poucos carros estavam dentro desta regra (MGB, Corvette StingRay Gran Sport, Triumphs, Jaguars e Volvos). Ficavam fora os Porsches 904GTS, Lotus Elan S2, Alfa-Romeo Giulia TZ-1 e TZ-2, além da Ferrai 250GTO - dá para imaginar!? Na verdade precisava pelas novas regras, as montadoras fabricarem 500 unidades iguais ou semelhantes no mesmo ano! Portanto, os carros acima, dentre outros, estavam banidos do G3 - O International Championship for GT Manufactures, organizado desde 1962 estava arruinado. Dai... a partir de 1966 tem um novo campeonato - International Sportscars Championship, com um novo Grupo 4. Precisava, para isso, fazer 50 carros (como eu já falei, no tocante ao 904GTS) idênticos. Dai... surgiram os Abarth 1000 e 1300OTC, Fiat-Abarth 1000, Simca-Abarth 1300GT e 2000GT, Shelby Cobra 289 e 427 Roadster, Alpine Renault A110 Berlinette, dentre outros (dentro deste Grupo entraram, ainda, o Ford GT40 e a Ferrari 250LM - ave santa). O G3 era subdividido em 3: S1 (abaixo de 1.300cc), S2 (1.301-2000cc), S3 (acima de 2.000cc) - bom... ainda havia o G6 mas isso é outra história, com o 906P.

A Armada Porsche:
Nr.30 - 904-009 - Barth/Davis,
Nr.34 - 904-023 - Slotemaker/van Lennep und
Nr.31 - 906-001 - Linge/Mitter

A FIA é mesmo esquisita - e o pior é que a designação GT foi aposta por causa da FIA. A Porsche, na verdade depois que se retirou da F1 na temporada de 1962, focou seus esforços nos chamados sportcars. O 904 debutou dois anos depois, em 1964, sucedendo imediatamente o 718 (aquele baseado no 550) RSK (RS quer dizer em alemão: Rennsport - carro de corrida), que havia sido introduzido em 1957, além de substituir os 356 - o 904 foi baseado mesmo no chassis tubular do 718RSK. Este novo Porsche, como falei, quebrou uma tradição - construiu-se um carro em fibra de vidro, ao invés de alumínio, como se fazia na Alemanha desde o famoso Silver Arrow em 1934. Mais detalhadamente, os 100 carros de 1964 foram produzidos com o motor do 550 Spyder (na verdade 75), os 25 finais foram com o motor do 356 Carrera, com 130hp (97kW) - todos em 4 cilindros. Em 1965, foram produzidos 20 carros, foram produzidos com o motor do 911 6 cilindros (eram chamados 904/6). Alguns carros da produção de 64, levaram motor de 8 cilindros (eram chamados de 904/8) - não se tem dados oficiais do número exato, oriundos do carro de F1 de 1962 (Porsche 804) - eram works cars e não entram na lista dos carros normais. Entrada das válvulas 48mm a 49mm e saída 41mm a 43mm. 2 carburadores Weber 46IDM, foram depois, substituídos pelo Solex 44P11, depois das 22 unidades produzidas. O sucessor do 904 em 1966, foi o Porsche 906 ou Carrera 6, usando uma fibra bem mais fina, e conseqüentemente, pesando menos. Hoje se faz uma réplica muito boa do 904, produzida por Chuck Beck (http://www.ChuckBeck904.com) - mas não sei se ele faz ainda esse carro - houve processos judiciais da Porsche contra ele.

A primeira "corrida" que o 904 participou foi no circuito de Solitude perto de Stuttgard - com os jornalistas (Herbert Linge e Edgar Barth) e potenciais consumidores - a primeira observação: "incredible noise level inside the cockpit". Os primeiros 10 carros são works. A primeira corrida para valer foi em Daytona, em 16 de fevereiro de 1964 (o carro quebrou). Logo em seguida em março, era a vez de Sebring - a Porsche inscreveu um time de cinco 904 como protótipos, pois, não tinha homologação para GT - um só ganhou na categoria abaixo de 3 litros. Em Le Mans 5 carros igualmente foram inscritos - terminando em 7, 8, 10, 11 e 12 lugar (com motores de 6 e 8 cilindros). 8 carros foram inscritos nas 12 Horas de Rheims (todos terminaram e um deles ficou em quinto). Na Targa Florio de 64 o 904 ficou em primeiro e em segundo. Ufa! Salve Colin Davis e Antonio Pucci. O 904 ganhou algumas corridas nos EUA, mas as provas mais famosas ganhas, eram a Targa Florio de 1964, pilotado por Colin Davis e Count Antonio Pucci; e, Sebring 12 Hours de 1965, com Briggs Cunningham e Lake Underwood (esse último cara foi o fundador da Watkins Glen Racing School e treinou o Paul Newman, para pilotar carros de corrida no filme de 1969 - Winning - oh filme chato). Muitos Times privados usavam o 904, entre os anos de 1964 a 1966. Ganhou Spa em 65 e Daytona em 66 com Joe Buzzetta e Gerhard Mitter - repito: é Buzzetta!!! Aliás, esse do carro Buzzetta ganhou o European Hillclimb Championship, pilotado agora por Herbert Muller. O 904-005, também, ganhou na categoria protótipo de 2 litros, nas 24 Horas de Daytona de 1966, pilotado por Gerhard Mitter. Esse Joe Buzzetta gostava de dar... ou melhor, emprestar o carro dele.

Over the Hill

Na campanha do Rally de Monte Carlo de 1965 - foi colocado a disposição pela Porsche um time com dois 904 de números 150 (Eugen Böhringer), 160 e um 911 (Hebert Linge) com o número 147. O rally tyres era o padrão: 165x15. Era um 6 cilindros sobre 2 litros. Foi uma trapalhada - eu tenho o filme para comprovar... ah se tenho caros amigos alemães!!! Vocês acreditam que um dos 904 se perdeu? Cadê o navegador? Tá bom... tinha neve - muita neve. Mas tinha neve para todos, uai. Dizem que não ganharam, porque um frentista colocou óleo no tanque do 904, misturado na gasolina, porque, pensou que o carro era um Saab! Pode? Nem parece alemão o chefe da equipe - está mais para Hans da Silva. Óleo no tanque... sei, sei.

Vamos simplificar: O Mäkinen/Easter ficaram em primeiro com um Mini Cooper 1275S, que saiu de Stockholm - em segundo ficou o Böhringer/Wutherich com o 904 e em terceiro a Pat Moss/Nyström com um Saab 96 (o Peter Harper ficou em quarto com Sunbeam Tiger; o Linge com um 911 ficou em quinto e o fantástico Roger Clark com o Rover 2000 em sexto). Vamos especificar mais: vide a foto acima do Eugen Böhringer bebendo conhaque na boca da garrafa (ele pilotava), e notem a cara de perdido do navegador (era para beber mesmo). E o Pauli Toivonen que se perdeu nas montanhas... (eu tenho o filme - que não postei por preguiça). E a vergonha que pouca gente sabe: performance comparativa entre o Mini Cooper S do Mäkinen com o Porsche 904 Carrera GTS, de Böhringer (em 11 estágios perderam 20 minutos!!!) - Pau do Mini no Porsche:

Chambéry-Monaco Sectition
Mini Cooper Porsche 904

41m28s	52m55s
30m25s	35m5s
20m32s	19m55s
12m47s	13m25s
6m59s	6m20s

Mountain Circuit
Mini Cooper Porsche 904

6m55s	6m32s
24m39s	24m47s
22m29s	23m44s
25m10s	26m35s
22m51s	23m15s
24m28s	26m7s

O 904GTS/8 que está no Museu da Porsche, esteve no line-up de Le Mans em 1954 e 1965 com Mitter/Davis. Interessante notar, que 5 meses depois o seu lançamento, e depois da quinta vitória, em 26 de abril de 1964, ela ganha a Targa Florio, com o Pucci e Davis. Ganha o Tour de France e os 1.000 kms de Nürburgring. Tem iguais vitórias em Le Mans e nas 24 Horas de Reims. Isso sem contar com o rallye de Monte Carlo de 1965, onde Eugen Böhringer chega em segundo. Mas... a montadora desiste de fabricar o modelo, para dar mais apoio ao 911 - ok, ok... mas valeu a pena?

Formatação Básica

MOTORIZAÇÃO
Motor:	2.0, 4 cilindros opostos (boxer), 8 válvulas (2 por cilindro), dois carburadores, gasolina
Cilindrada:	1.966 cm³	Potência:	198 cv a 7.200 rpm
Potência Específica:	99 cv/litro	Torque:	20 kgfm a 5.000 rpm
CARROCERIA
Comprimento:	4.090 mm	Peso:	650 kg
Largura:	1.540 mm	Porta-Malas:	Não disponível
Altura:	1.065 mm	Tração:	Traseira
Freios:	Discos nas quatro rodas	Câmbio:	Manual de 5 marchas
DESEMPENHO
Velocidade Máxima:	241 km/h	Aceleração:	6,4 segundos

Fotos contemporaneas e históricas

Targa Florio de 1964

Aliás, um motor igual a este do 904, foi utilizado nos KG's Porsche aqui no Brasil, importado pelo Paulo da Dacon.

Um 904 meio que abandonado nos EUA nos anos 70

Aqui é Luanda em 1964, no VII Grande Premio da Angola, no Circuito da Fortaleza (100 voltas no circuito de 3.012mts). Vamos a esse grid que é bem interessante: Na primeira fileira temos: duas Ferrari 250 LM da Écurie Francorchamps de Willy Mairesse (#6023) e Lucien Bianchi (#5843), a 250 LM (#5907) da equipa Maranello Concessionaires do Coronel Hoare, pilotada por David Piper e o Porsche 904 GTS do holandês Rob Slotmaker. Logo atrás, na segunda fileira, vemos a Ferrari 250 GTO de David Piper, (#4491GT) entregue ao Sul Africano Tony Maggs, a Lotus 23 de Bill Bradshaw e o Porsche 904 GTS (#052) de Jo Schlesser. Na terceira fila estava o Porsche 718 RSK de Hermann Müller, o 904 GTS de Gerhard Koch e a Lotus 23-Ford de Tonio Hildebrand. Por fim, vê-se a frente da Ferrari 250 GTO (#3607GT) de Antônio Peixinho, que viria a classificar-se na 5ª posição da geral. A prova foi dominada pelas duas Ferrari 250 LM belgas, ficando Mairesse à frente de Bianchi e o Porsche (#028) de Koch no último lugar do pódio.

Les Leston num Porsche 904

Daytona 1964

teste desnecessário - já fizeram poucas unidades...

Le Mans de 1964

1000 kms de Nürburgring de 1964

Targa Florio

Targa Florio

Vittorio Giordano

Targa Florio

Macau de 1964

Targa de 64

Porsche 904 GTS-Andrea Vianini - Targa

904/6


Porsche 904 GTS , Scuderia Filipinetti - Bernhard Rayers e Herbert Mulller


Porsche 904 GTS Scuderia S. Ambroeus - Gianni Bulgari e Maurizio Grana


Porsche 904 GTS - Mario Balzarini e Herbert Linge


Porsche 904 GTS - Antonio Pucci e Colin Davis


Porsche 904 GTS - Radefalk e Duneborn


Porsche 904 GTS - Jacques Rey e Jean Pierre Hanroud


Porsche 904 GTS - Andrea Viannini e Bruno Deserti


Porsche 904-8 GTS - Umberto Maglioli e Edghard Barthe




Targa de 64




Pucci/Davis


Pucci Antonio / Davis Colin -Targa de 1964.


Colin Davis-Porsche 904 GTS


Taramazzo e sua Ferrari GTO 64 atrás do Porsche 904 GTS de Rey


904/8

Briggs Cunningham e Lake Underwood (USA) /12 Horas de Sebring 1964

COUPE DE ALPES de 64 / Porsche 904 GTS de Christian Poirot-Marbaque

cenas do filme

Utilizado no filme O Homem que Traiu a Máfia de 1966

Belo grid

Literatura, Arte e Modelos

Filminhos
(são fraquinos - só o # III que é legal, mas é genérico de Monte 65)

I


II


III
Filminho de 10 minutos sobre o Rallye de Monte Carlo de 1965, but... só mostra carro e equipe inglesas

Luis Cezar