A Grande Corrida
(1908)
Por falha da manipulação do meu blog, por vezes (não é a primeira vez), que meus "seguidores" recebem material de rascunho. - mais uma vez, peço desculpas. Desta vez foi o post que ainda vou lançar sobre a "prova", ou melhor como dizem os franceses - o Raid, entre Pequim-Paris em 1907. Essa inspirou a Grande Corrida de Nova Iorque a Paris de 1908. A primeira ficou mitica, já essa ficou famosa, também, pela coragem e por ser realmente o primeiro grande Endurance ou Desafio internacional, com forma de competição... competição entre homens, máquinas que envolveram um grande sentimento de patriotismo. No ano que vem (2011), haverá uma prova que irá percorrer o mesmo trajeto (como aliás, já se faz com a atual prova Pequim-Paris). Eu - sinceramente - gostaria de fazer o Pequim-Paris, mas não tenho muita vontade de atravessar todo os EUA (novamente), e fazer ainda o trajeto de navio até o outro continente.
G. Bourcier St. Chaffray (todo coberto por um "chapéu" branco), pilotava o De Dion-Bouton
O jornal Le Matin, apesar de ter sido o vetor da "corrida" de 1907 entre Pequim a Paris, ficou frustrado, diante do número de adesões iniciais para fazer este Raid, depois se decepcionou quando cobrou inicialmente uma taxa de 2000 francos e, mais tarde, depois de ter cancelado a prova, viu esta se concretizar com 5 participantes, transformando-se na "corrida" ou "rallye" mais importante de todos os tempos, que não tinha regras e o troféu era uma garrafa de champagne. No mesmo ano de 1907 (novembro), firmou compromisso com os norte-americanos (New York Times), para fazer uma corrida entre Paris e Nova Iorque.
Quem deu o nome de The Greatest Auto Race on Earth foram - claro - os norte-americanos, que deram toda a publicidade (fora feito um documentário sobre a corrida com cenas em filme e tiradas mais de 2000 fotos, além do púiblico estimado na largada em Times Square em 12 de fevereiro de 1908, de 250 mil pessoas e na chegada em Paris de igual número). A prova envolvia Reis, Presidentes, governantes e principalmente, um nacionalismo exacerbado (tanto é que um dos participantes, dá essa volta ao mundo - praticamente - com uma bandeira norte-americana fincada literalmente no seu carro).
Na verdade em 1907 houve uma gerra de pneus com a Michellin, Pirelli e Dunlop envolvidos, mas neste ano, além é claro dos pneus, as marcas e nacionalidades dos carros era importante. Estavam lá o American Thomas Flyer (USA), Züst representava a Itália, o alemão Protos e os franceses De Dion, Motobloc e Sizaire-Naundin (só 3 chegaram a Paris). George Schuster, Antonio Scarfoglio, Hans Koeppen, St. Chaffray, hans Hansen, Sirtoria, Haaga são nomes eternizados por causa desta corrida (que deu origem a documentários, filmes e até desenho animado). Como disse o Teddy Roosevelt: "I like people who do something not the good safe man who stays at home".
O primeiro checkpoint depois de NY foi em Chicago, e o segundo e final checkpoint em território norte-americano foi em São Francisco. Depois de barco até Valdez, pilotando através do Alasca, sobre o gelo, até chegar no Estreito de Bering, para atingir a Sibéria, Asia e depois a Europa. Em carros de 1908 - machos pra caramba!!! É mas... neste caminho tinha neve e gelo pra caramba, e... abandonou-se esse plano, passando para o chamado "plano B": em São Francisco pegaram um navio para o Japão, de lá iriam para Vladivostock, atravessariam a Siberia, Manchuria, Russia, Alemanha e finalmente Paris. Ok, ok - também era coisa de macho (um pouco menos, mas era coisa de macho). Cadeias de montanhas com mais de 10.000 pés, rios imensos para atravessar, milhas e milhas de lama, desertos, alguns povos hostis. Hay que tener... Depois de 6 meses após ouvir o som da pistola (de ouro), na largada em Times Square, e depois de 22 mil milhas, 3 dos 6 times chegam em Paris (só o Protos, o Züst e o Flyer passaram por Vladivostok).
O time norte-americano (George Schuster e Montague Roberts), chegou em Paris no dia 30 de julho e vence uma corrida (sim. .. realmente era uma competição ). Os Alemães chegaram 4 dias antes (mas foram penalizados em 30 dias, porque nao passaram pelo Alaska e fizeram parte do trajeto sobre vagão de trem - essa idéia de Kid Vigarista do desenho animado, veio desta fama dos alemães nesta corrida). Os Italianos chegaram depois de 26 dias, em final de setembro. Diariamente havia notícias sobre a corrida no NYT (New York Times). Essa corrida e a anterior de 1907 (Pequim-Paris), serviram para dar confiança ao automóvel como transporte de longa distância (imagine só), além de incentivar a abertura de estradas pelo mundo. O modelo ganhador foi um Thomas Flyer de 1907 Model 35, com 4 cilindros e de 60hp. Andou praticamente 22 mil milhas ou 35 mil quilometros (entre 12/2 a 30/07 de 1908). Esse carro foi totalmente restaurado por William F. Harrah, e está em exibição no National Automobile Museum (Reno, estado de Nevada).
Quem eram alguns destes personagens:
Antonio Scarfoglio (Zust)
Era o mais jovem piloto. Viria a se tornar um jornalista famoso e fundador de um jornal inovador (com fotografias). Seu pai já tinha um jornal em Nápoles. Ele gostava de máquinas e velocidade. Mais tarde "correu" de provas de barcos de corrida. Escreveu um livro sobre essa saga.
G. Bourcier de St. Chaffray (De Dion)
Era um aristocrata francês, e na época tinha 36 anos. Pilotava o De Dion. Na prova ele atuava também como o Commissionaire General, chamando toda a responsabilidade para ele, pelo trajeto e pela rota percorrida. Ele era chegado a organizar eventos que pareciam impossíveis, tais como a corrida de barcos entre Marseille e Algiers. Dizem que o De Dion dele foi sabotado em Vladivostock. Ele era um dos candidatos a ganhar essa prova.
Tenente Hans von Koeppen (Protos)
Tinha na época 31 anos. Era militar lotado no 15 Batalhão de Infantaria da Prussia (precisou de uma licença especial para fazer essa prova). Nunca tinha pilotado um carro antes, mas afirmava que iria aprender observando seus companheiros o engenheiro de armas Hans Knape e o motociclista Ernest Maas (esses não chegaram em Paris, mas von Koeppen chegou e foi penalizado, pois, nunca foi para o Alaska (como o combinado), fez trajetos ilegais por navios e de trem. Sua figura originou o personagem Kid Vigarista, no desenho animado e no filme dos anos 60.
George Schuster (mecânico e piloto) - (American Thomas Flyer)
Era empregado da American Thomas Flyer, uma fábrica de automóveis localizada em Bufalo. Ele era piloto de testes da fábrica. Foi o único que não fez lobby para participar da corrida. Seu patrão elevou o seu salário de 50 dólares por semana para 100 dólares por mês, durante a corrida. Ele pilotava o Flyer durante a chegada em Paris, ao lado de seu patrão E. R. Flyer, com a bandeira norte-americana fincada atrás do carro. Ele veio a morrer em 1972.
Skipper Williams e George MacAdam (Time do Flyer)
Esses caras estavam na corrida como profissionais - não para pilotar ou ajudar na parte mecânica, mas eram jornalistas contratados por um dos patrocinadores - o The New York Times. Eles que passaram todas as imagens e informações para o resto do mundo que acompanhava essa saga.Tecnicamente, eles faziam parte do time norte-americano fo Flyer. O Williams cobriu a corrida cruzando o território norte-americano e o MacAdam só entrou na corrida a partir de Seattle. Aliás, todos os artigos postados no NYT estão a disposição, digitalizados.
O vencedor, que chegou em segundo
E os carros?
Zust
- A Itália participou com apenas um carro: era o Zust.
- 40Hp, com 4 cilindros e 4 marchas, que atingia a impressionante marca das 60 milhas por hora.
De Dion
- A França entrou com 3 carros da marca De Dion, mas somente um chegou a Vladivostock (dizem que um dos carros foi sabotado).
- Tinha 4 cilindros e 4 marchas, que faziam atingir a marca das 50 milhas por hora.
- O único carro da Alemanha foi o Protos, que foi feito exclusivamente para essa corrida, iniciando uma fase de carros works para eventos esportivos.
- Foram envolvidas 600 pessoas na fábrica em Berlin, para construir esse carro em 16 dias.
- Tinha 40hp e 4 cilindros. Chegava as incríveis 70 milhas por hora. Tinha 6 tanques de combustível separados, que carregavam 176 galões! Era o mais equipado, o mais longo e o mais pesado dos carros.
The Thomas Flyer
- O Thomas Flyer representava os EUA. Houve muita força para que ele ganhasse a prova, principalmente na frete do Protos. Também foi construído especialmente para esta corrida, e entrou no momento final de fechar as inscrições. Aliás, dizem que as inscrições já estavam fechadas, quando ele entrou, contudo, em outros livros há referências que ele entrou há 3 dias da largada (no NYT a noticia foi que o E.R. Thomas enviou um telegrama para sua fábrica em Bufalo, e pediu para o seu gerente de produção George Whiteside, para escolher um dos 4 carros que já estavam prontos, modelo de 1907 e, adaptar para a corrida - fizeram isso em 1 dia e meio e levou 1 dia e meio para chegar para a largada). Histórias - mas o modelo era fabricado em 1907 e não feito especialmente para a corrida e sim adaptado.
Cenas desta prova fantástica
Linha de largada no Times Square, onde o prefeito da cidade de NY - George B. McClellan "dá o start". Tinham 250 mil espectadores. Eram 11:15 da manhão de 12 de fevereiro de 1908. Não foi bem o prefeito que dá a largada, mas que autoriza do presidente do American Atuomobile Club - Colgate Hoyt - a acionar a pistola de ouro e... bum. Lá se vão os competidores.
George Schuster (o Chief Mechanic da E. R. Thomas Motor Company de Buffalo, NY), sentado no banco de tras do Thomas Flyer na largada no Times Square.
Montague "Monty" Roberts, era o piloto do Thomas Flyer
Saida do Flyer da fábrica em Bufalo, com sua 45 star flag tremulando.
8 de abril de 1908 - foto do The Thomas Flyer, quando chegou a Valdez, no Alaska.George Schuster pilotava (na foto a esquerda no volante), George Miller o mecânico, vinha a seu lado, George MacAdam, reporter do New York Times, estava sentado atrás (aquele de gola de pele), Hans Hansen era o último lá atrás.
Foto de 30 de julho de 1908 - a volta à NY do Thomas Flyer depois da vitória.
O Flyer atolado perto de Julesburg no Colorado.
O Thomas Flyer ao lado da Trans-Siberiana.
Outro representante da França o Sizaire-Naudin Special: 2 assentos, 15hp, 1 cilindro e muto pesado para pouco motor.
Outro francês o MotoBloc de 30hp e de 4 cilindros.
Outro francês - o De Dion-Bouton de 4 cilindros e 4 marchas - notem as correntes nas rodas traseiras.
Thomas Flyer (na verdade esse modelo era de 1907 - Model 35, 60hp, 4 cilindros, 4 marchas.
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