Um dos carros de pista e rallye dos anos dourados mais famosos, foi o Ford Lotus-Cortina. Vamos falar um pouco deste pequeno notável, que como o Mini-Cooper, desenvolveu um magnetismo em torno de si, de competência, robustez e estabilidade.
A Ford inglesa precisava substituir o seu famoso e já cansado Ford Anglia, além de inovar sobre o conceito do Consul, do Zephyr e do Zodiac. A preocupação mesmo, era dar continuidade de uma marca de sucesso como era o Anglia (tanto é, que no primeiro ano de produção do Cortina, ele se chamava Anglia - a Ford já tinha um carro chamado Corsair e queria continuar na letra "C", então veio o Cortina, referente a famosa estação italiana de esqui - Cortina di Ampezzo - onde foram realizados os jogos de inverno de 1956 - no desenvolvimento deste modelo dentro da Ford, seu codinome era "The Archbishop". Patrick Hennessey, então CEO da Ford, sugeriu o nome de Carino, mas desistiu depois de conhecer a cidade de Cortina).
Para se fazer um carro econômico (para competir com os Minis), e com performance, decidiu-se aliviar o peso do carro em 15% na estrutura e 20% nas peças. O projeto foi concluído em 9 meses e estava pronto no final de 1959. Quem desenhou aquela traseira com duas grandes lanternas foi John Bugas, da Ford International Division. A produção do Ford Cortina MKI teve inicio, na Inglaterra em setembro de 1962, sendo chamado de Consul Cortina, sendo que, depois que o mercado absorveu o primeiro impacto, este carro foi chamado somente de Cortina.
O Cortina, tinha como base (originária no projeto), a cilindrada de 1.000cc, motores Kent, que equiparam o Anglia, mas passaram logo para para a cilindrada de 1.200cc (na verdade 1.198cc). Uma das inovações foi a redução do percurso do pistão (48.5 hbp a 4.800 rpm, gerando uma velocidade final de 78mph, com um consumo de 29 milhas por galão). Em janeiro de 1963, surgiu o motor 1.500cc (1.498cc), como uma opção, com 5 pistões e não mais com os usuais 3 pistões do motor 1.200cc (a diferença de preço entre um motor e outro na loja, era de apenas £20,00!). Foi lançado na versão 2 portas, sendo a versão em 4 portas, lançada em outubro de 1962. O modelo Lotus-Cortina surgiu neste ano e o modelo GT, apareceu em abril de 1963. Em setembro de 1965, o modelo MKI é descontinuado (contudo, ainda dentro da linha de produção havia carros, que foram vendidos até setembro de 1966). Surge, então o modelo MKII. O modelo MKI, foi produzido num total de 1.010.090 unidades (um recorde na Inglaterra naquela época).
O Cortina GT, foi colocado no mercado em abril de 1963. Basicamente este modelo utilizava a mecânica do Ford Capri GT, desenvolvido pela Cosworth. O 1.500 tinha 78bhp a 5.200 rpm, com double-barrel da Weber, gerando um som característico, com um novo cabeçote e válvulas maiores, empurrado por pistões especiais (taxa de compressão a 9.1:1). O GT atingia 95mph. Para os rallyes, as equipes particulares faziam mudanças mínimas, como a utilização de rodas mais largas, pneus especiais, mudança na caixa de câmbio (o problema maior era o tanque, que só cabiam 8 galões). Os GTs tinham um painel bem diferente do modelo standard, com conta-giros, marcador de pressão de óleo, temperatura e voltímetro. Estima-se que foram vendidos entre 100.000 a 120.000 GTs (foram fabricados na Autrália, os GT 500).
Os Lotus-Cortina, tiveram sua base e origem, sobre os GTs. Em 1963, o competitions department de Boreham, entendia que o Cortina, tinha que participar em pista e em rallye (com o mesmo sucesso), pois, isso iria se refletir nas vendas. O Team Lotus e a Alan Mann Racing, fizeram um set-up e o desejo foi realizado: Sucesso para os Lotus-Cortina. Em abril de 1963, o GT já havia sido homologado para participar das competições do Grupo 2 (vide a vitória de Pat Moss, na categoria damas, no Tulip Rally dando pau nos Sunbeam Rapier).
O primeiro sucesso, diria mais eficaz, foi um 4º lugar no Acropolis Rally e um 2º lugar na categoria Touring no Alpine Rally, pilotado pelo mítico Henry Taylor. A equipe ainda conseguiu com um motor Lotus, um 4º lugar no Spa-Sofia-Liège Rally. Em 1964 o GT foi homologado para o Grupo 1, com seus famosos twin webers e um segundo tanque de combustível atrás do bando traseiro, com um câmbio do Lotus-Cortina.
Este novo set-up foi colocado a prova, com a inscrição dos famosos six white cars, em 1964, no East African Safari Rally. 4 destes carros terminaram esta prova de Endurance e a Ford ganha o prêmio Manufacturer (Mike Armstrong chega em 3º e Peter Hughes fez uma ótima média no Kenya, pilotando o Cortina GT KHS 600 - o mesmo ocorrera com Vic Elford).
O lendário Roger Clark, com seu Cortina GT privado, fez sucesso fora dos padrões do works GTs, ganhando em 1964 e 1965 o Scottish Rally, assim como, repetindo o feito em 1965 no Gulf London Rally e, ficando em 3º neste mesmo ano no Circuit of Ireland (não precisa falar que a Ford logo o contrata, fazendo um casamento perfeito, que teve início com a vitória em 1965, com um work GT no Canadian Winter Rally - este carro tinha algo em torno de 120bhp, ou seja tinham 78bhp a mais do que um carro normal de série). Na verdade depois, descobriu-se que estes carros, tinham 150bhp.
O Lotus-Cortina surgiu em janeiro de 1963. Apareceu para atender o mercado norte-americano, que sempre exigiu carros com motores velozes e a Ford tinha interesse de vender um carro compacto, com um "motorzão" ou no mínimo, fazer propaganda da marca de seu carro inglês nos EUA (que era um grande mercado). Isso tudo para atender a uma determinação da política interna da Ford chamada de Total Performance, surgida no início dos anos 60.
O Lotus-Cortina surgiu de uma idéia oriunda do então Britain Public Affairs (departamento da Ford), pelas mãos do chefe da equipe Walter Hayes (ele na verdade era integrante e fundador do famoso Ford Advanced Vehicle Operation - AVO - responsável, mais tarde pelo surgimento do GT40 e do Escort RS). O Time da Lotus, havia desenvolvido um motor twin-cam, baseado no motor Ford de 1.499cc, que equipava a Lotus Elan. Hayes chamou o boss Colin Chapman e encomendou 1.000 Cortinas, que deveriam ter a designação de Lotus-Cortina (houve uma briga para o Cortina vir antes do nome Lotus, mas venceu o bom senso), com o fim único homologatório para o Grupo 2 (neste Grupo modificava-se o motor, caixa de direção e suspensão). Em março de 1967, depois de 2.894 unidades produzidas, é lançado o Lotus-Cortina MKII (com produção em torno de 1.300 unidades).
O motor do Lotus-Cortina foi baseado no five-bearing da Ford. A conversão era feita pelo Herry Mundy (desenho original oriundo do motor Ford de 1.340cc - three-bearing block, usado no Anglia Classic 109E e depois, passaram para o 1.499cc do 116E, que equipava a Lotus Elan, que depois de trabalhado, ficava com 1.558cc, para atender a competition class limit de 1.600cc). Mudava-se basicamente o cabeçote do 116E, com todo o jogo de pistões e válvulas. O desenho foi convertido em cabeçote de alumínio. Tinha double-barrel Weber de 40DCOE, com corta-motor quando este atingia 6.500rpm (no The Official Lotus Performance, este motor atingia 105bhp a 5.500rpm, com um torque máximo de 108lb ft a 4.000 rpm, com um top speed de 105mph - 0 a 60mph abaixo dos 10 segundos - a 1ª atingia: 50mph, a 2ª: 70mph, e a 3ª: atingia 90mph).
Para homologar este carro no Grupo 2, se fez mister a fabricação de 1.000 carros em 1963 (a homologação foi em setembro deste ano, depois de serem construídos somente 228 carros - o que?!). No mesmo mês este modelo participa do Oulton Park Gold Cup, terminando em 3º e 4º, atrás dos famosos Ford Galaxies (mas eles - Galaxies - logo ficariam atrás, olhando o trabalho da suspensão especial, criada para o Lotus-Cortina), mas na frente dos Big-Cats (Jaguar) MKII, de 3.8l. Os Lotus-Cortina deram pau em muitos Galaxies V8, de 7 litros e nos Mustangs da época. Bom... também tinham pilotos do primeiro time, como o Roger Clark, Jim Clark, Sir John Whitmore, Jackie Ickx e Jackie Stewart, pilotando estes torpedos (alguns na cor branca com lista lateral verde, como o carro do Jim Clark e outros vermelhos com lista lateral dourada, como o do Roger Clark).
Jim Clark ganhou o British Saloon Car Championship e nos EUA, Jackie Stewart e Mike Beckwith ganharam o Mallboro 12 Hour, além da Alan Mann Racing ganhar várias corridas no European Touring Car Championship, incluindo um 1º e 2º lugar no Motor Six Hour International Touring Car Race, de Brands Hatch. Boreham chega com um dos seus carros em 4º e ganha as 4.000 milhas (em 10 dias), do Tour de France. Outras vitórias foram sentidas como no Austrian Saloon Car Championship, no South African National Saloon Championship, no Swedish Ice Championship e no Wills Six-Hours na Nova Zelândia.
Em 1965 o Lotus-Cortina ganha com Sir John Whitmore o European Touring Car Championship, Jack Sears ganha o British Saloon Car Championship, Jackie Ickx ganha o Belgian Saloon Car Championship. As vitórias iam se somando no New Zealand Gold Star Saloon Car Championship; no Nuburgring Six-Hour Race; no Swedish National Track Championship; e, no Snetterton 500.
Jim Clark
Em 1966 o Team Lotus registra novos carros na nova série (o regulamento foi alterado), do British Saloon Car Championship (Grupo 5). Injeção agora é usada ao invés dos Webers (Lucas injection, tunada pela BRM), os motores tinham 180bhp a 7.750rpm e novas suspensões McPherson. Resultado: 8 vitórias do Lotus-Cortina, nas mãos de Jim Clark. No European Touring Car Championship, Sir John Whitmore apesar de ganhar 4 vezes, isso não lhe dá o título no final, ficando para as Alfas GTAs.
carro do Tony Chappell
Apesar dos Lotus-Cortina seguirem a sombra do Ford Escort nos rallyes, a sua performance, deixava uma característica própria. O primeiro Lotus-Cortina que participou de um rallye era um "meio" Lotus-Cortina, pois, era um GT com motor da Lotus. Esse carro foi utilizado para fazer o Rallye Spa-Sofia-Liege, em setembro de 1963, justamente para testar o motor, sendo pilotado por Henry Taylor, ficando em 4º lugar.
O primeiro verdadeiro Lotus-Cortina, participou neste mesmo ano no RAC, tendo como piloto o HT (apelido do Henry Taylor) e como navegador Brian Melia, onde terminaram em 6º. Em 1964, os problemas com a suspensão, encontrados no RAC do ano passado, foram sentidos por Vic Elford (com fotos autografadas neste artigo) e David Seigle-Morris, nos 10 dias do Tour de France (mais de 4.000 milhas). Neste evento eles chegaram em 4º na categoria Touring Car e, em 1º, pelo Handicap da categoria de hillclimbs, nountain road rallye.
A primeira grande vitória de um works Lotus-Cortina, foi em dezembro de 1965, quando Roger Clark e Graham Robson, ganharam o Welsh International. Em 1966 a Ford faz uma "mágica", para colocar o Lotus-Cortina no Grupo 1 (mais de 5.000 teriam que estar construídos, mas...). No MCR (Monte), Roger Clark chega em 4º, e Elford termina em 1º no San Remo (Rally of the Flowers) - ele terminaria em 2º no Tulip Rallye. Bengt Soderstrom, chama Victor para fazer o Acropolis Rallye e este termina em primeiro (na verdade terminou em segundo, mas os Mini-Cooper S foram desclassificados).
Novos carros foram utilizados no French Alpine Rallye, com motor Elford, onde Roger Clark terminou em segundo. O mesmo Clark, chega em 3º na dura prova Canadian Shell 4.000; chegando em segundo na Grécia e, em quarto, na Polônia. Outro fabuloso Clark (Jim), ganha 2 vezes seguidas, o RAC. Em 1966, o Time ganha no Rallye de Genebra com Staepelaere e com o canadense Paul MacLellan, o Shell 4000. A última vitória antes da chegada do MKII, foi obtida por Soderstrom, na neve, no Swedish Rally em fevereiro de 1967.
Foram produzidos:
Consul Cortina (1.200cc) 113E - Setembro de 1962;
Cortina Super (1.500cc) 118E - Janeiro de 1963;
Cortina Lotus (1.558cc) 125E - Janeiro de 1963;
Cortina G.T. (1.500cc) 118E- Abril de 1963.
(3.014E 1300 DeLuxe MK2, 3.016E 1500 MK2, 3.018E 1600 MK2 e 3.020E - MK2 Cortina Lotus)
Na Austrália fabricaram o modelo GT500 (entre 90 e 120 carros produzidos).
JTW 498C do Clark/Whitmore/Sears Team Car. Foi vendido por £136,000.
Michael Cooper no Oulton Park 1966.
Cuide bem dele, senão...
Luis Cezar
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