Duro mesmo é quando você sai com seu carro clássico para jornada nas estradas. Pega uma estrada e sai contente da vida, cantando: "a minha vida é andar por este país...", e... você nota que a gasolina do seu carro clássico está quase acabando. A primeira reação é procurar um posto na estrada, mas qual-o-que, antigomobilista, tem uma mania de andar por estrada vicinal, quase que no meio do canavial. O que lhe resta é entrar numa cidade estranha a procura de "qualquer" combustível. A confusão começa quando você para para pedir informação. Antes dela ser dada vem a clássica pergunta ou perguntas: "que ano é?", ou logo em seguida: "quanto custa?", e finalizando: "gasta muito combustível?". O seu nervoso começa a lhe incomodar. Você responde qualquer coisa, com um sorriso amarelo, sem tirar os olhos do ponteiro que já está desfigurando a letra "V" de "vazio", transformando-a numa letra "Y"; ou o ponteiro está quase que morto sobre a letra "E" (Não... não é de "emptiness", mas E de energúmero, ou seja, pessoa que, dominada por uma paixão, pratica desatinos, porque, não botou gasolina naquele posto "Alê"?!). Isso sem falar nos carros que vem com a designação de "Benzina" - benzina? Seu carro usa benzina? Até você explicar que benzina é designativo comum a vários destilados voláteis, inflamáveis, do petróleo, que consistem em misturas principalmente de hidrocarbonetos alifáticos e são usados especialmente como solventes e como combustíveis de motores, ou o mesmo que benzeno - ou explicar que o nome "gasolina" em outros países é o mesmo que benzina, seus nervos já não aguentam mais.
Veja bem a situação. Os habitantes locais fazendo perguntas impertinentes, você com muito pouco combustível - na sua imaginação surge a pergunta: quantos metros eu ando com o que tem no copo ou caneca do carburador? E se o carro parar? Vou aguentar as gracinhas, tipo: "compra um carro novo!". O pior são os rostos dos ocupantes do veículo em questão: Você se sente uma Joana D'Arc. Você olha para sua mulher - ela vestida de bispo da igreja católica espanhola do último quartel do século XVII, em pleno tribunal eclesiástico da inquisição. Seus filhos, vestidos de carrascos do Santo Ofício, aguardam a hora para decretar: "Eu falei!" ... "Porque, Pódium?" ... "Gasolina do Posto Alê, não é a mesma coisa?" - e todos em um só coro: "Não vamos descer do carro, e não vamos empurrar nada!"
A situação piora, quando os habitantes locais indicam o posto de combustível, gesticulando com as mãos e dando nome às ruas, como se você morasse no local há muitos anos: "O senhor pega a Conselheiro Zanforrachi, depois, entra na Melchior Malatesta, e logo na terceira a esquerda tem um posto na Wilma Kotonofre - fica no bairro Fundão Baptista" - Nem que eu fosse um gênio, dava para decorar isso tudo. E quando eles mandam pegar a rótula (cidade do interior é uma fartura em rótula, praça e igreja)! E quando a explicação é detalhada: "Óia... o senhor segue aqui - passa pela Telha Norte, lá embaixo - depois do Empório Messalina - o senhor pega a perimetral - aquela que tem o corginho Zezé, no sexto... não, no quinto farol, o senhor entra a esquerda - na padaria Rosquinha Fina, depois a sétima a esquerda - e no final da rua tem um posto bão - perto da Telha Norte" (só com um livro de bordo, você consegue chegar no posto bão - e na média baixa, para ler as indicações).
Um dia isso me aconteceu - Conselho: Nunca confie num marcador de combustível e sua maldida bóia - sabe aquele ponteiro que marca num determinado momento que tem meio tanque, e de repente ele vai a knock-out! A primeira providência é bater no maldito instrumento. A prima facie, é necessário contar para o povo que está habitando momentaneamente o seu carro, que este veículo encontra-se com pouco ou quase sem combustível. Após váias, "coques no cocuruto" (Pancadas leves na cabeça com os nós dos dedos; carolo, cascudo, cocre), e "telefones" (Tapa que se aplica, simultaneamente, com as mãos em concha, nos dois ouvidos do agredido), aplicados pelos familiares que estão no banco traseiro, você deve ser esperto em procurar um "chapa". Chapa para quem não sabe é um personagem que fica na beira da estrada e conhece tudo na cidade vizinha. Pois bem, encontrei um e negociei com o aculturado, colocando em seguida no carro. Bem... necessitou, também, negociar com a família para colocar o personagem no carro! "Quem é esse indivíduo Luis Cezar?" (quando a sua mulher procuncia o seu nome, sem o adereço: benzinho, amor, e que tais, é porque a coisa está ficando feia). Expliquei de forma resumida o importante trabalho deste aculturado.
(única foto do Seu Firmino - O Chapa)
Este senhor ficou sentado entre meus dois filhos, sobre um saco de biscoito de polvilho, que imediatamente estourou - ao que ele exclamou: "Foi mal chefia!". O cheiro de mato com uma mistura de diesel, só era suplantado pelo odor característico que exalava pelos seus sovacos. Gente boa este senhor Firmino. Após, várias entradas em ruas e mais ruas, fomos parar num posto, que por sinal estava devidamente fechado, com a expressão do chapa: "Chegamos chefia!". Croques, telefones e xingamentos, obrigaram o senhor Firmino e eu, a sairmos do carro que acabara de ficar sem uma gota sequer de combustível (PQP). Depois de ouvir temas correlatos com a falta de segurança do local ermo, e com a falta de ar condicionado no carro, resolvi perguntar ao senhor Firmino - com toda a calma: "Há outro posto?". "Sim" ele me responde, "mas temos que combinar o preço!" Depois de rápida negociação, parto sem a família, em busca de um combustível. Não muito longe avistei o posto: "Alê"... PQP - exclamei em voz bem alta, ao que o senhor Firmino comenta: "Tá alegre chefia?". Lá chegando, me serviram num saco plástico (aquele que têm 3 buracos, para uma criança de 5 anos colocar os dedos - adulto só consegue se passar graxa), uma gasolina numa tonalidade furta-cor (que apresenta cor diversa, segundo a luz projetada). Eu de forma ingênua perguntei: "Essa cor é assim mesmo?" - ao que me respondeu o frentista, coçando a bolsa escrotal: "O Sr. precisa ver quando queima na churrasqueira, é uma labareda só na cor por-póra" (ele quiz dizer: púrpura).
Enquanto eu andava, aquela "gasolina" saia saltitante do saco, atingindo minha calça e sapado, que mais tarde notei que os danos eram irremediáveis (minha calça de brim azul na perna direita, parecia um cachorro dalmata e o meu sapato direito, parecia ter sido confeccionado com roupa de camuflagem do exército). Ao chegar no carro, tentei abrir (sozinho) a tampa, algo que se qualquer dono de Circo tivesse visto, me contrataria como contorcionista. Com o chaveiro na boca, a tampa numa das mãos e as duas segurando o saco com combustível, tentei colocá-lo dentro do tanque. Nesta hora, familiares descem do carro, alterando, por assim dizer, o seu horizonte ou o seu prumo, fazendo com que o precioso líquido escorresse na pintura - vocês sabem o que estou tentando dizer - ao gritar o chaveiro pula e cai caprichosamente no bocal do tanque. Eu segurei com tanta força aquele saco (no local dos 3 dedos) e a tampa, que durante muito tempo fiquei com a marca gravada na palma da mão - OVLOV. A mancha na pintura ficou imediatamente branca, formando um "véu de noiva". PQP...
Após pescar com uma certa habilidade o chaveiro, liguei o carro e tentei chegar a um outro posto, para abastecer condignamente. O ambiente interno era tenso - já o carro falhava e ficou, por assim dizer fora do ponto. A única frase dita foi: "essa gasolina fede, não!?". Meus olhos flamejantes, quase provocaram um incêndio, mas o cheiro era tão forte na minha roupa, que todos dormiram entorpecidos... Quando chego em casa, me mandam entrar pela porta dos fundos, e tirar a roupa na área de serviço (ao terminar de fazer isso, só de cuecas, rompe do banheiro da empregada - ela - Eronildes, não se importando com aquela figura triste e desgastada que eu me encontrava, afirma: "essa gasolina fede, vigiiii..."
Luis Cezar
3 comentários:
Puxa vida,navegando pela net a procura de uma bóia de combustível para meu poisé,encontro esta pérola de texto,muito bem "escrevinhado" por sinal,com uma narrativa tão rica que instantaneamente me lançou para dentro desta cómica e ao mesmo tempo frustamte situação.Senti até o cheiro do solvente que lhe fizeram passar por gasolina.
Parabéns.Quem derá um dia eu poder contar meus "causos" com tamanha maestria.Sorte!
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