Lotus Eleven... era uma espécie kit car, mas não era brinquedo não. Aquele brocado dos admiradores de carros musculosos, de que "quem gosta de motorzinho é dentista", é dito por quem não tem cultura de corrida - motorzinho de 1100cc andava a 200 kph!!! Era um carro de corrida, construído em várias versões na verdade (chegou até mesmo a ser vendido no Brasil, pelo Colin Chaplin, mas...), sendo construído entre 1956 a 1958 (em 58 o modelo era chamado de Lotus 13). Foram fabricados 270 Elevens em todas as suas versões (há notícias de 300 a 308 - e só numa fonte encontrei 400...). O motor (tipico) era um Coventry-Climax FWA, com 1098cc SOHC, com 4 cilindros em linha. Não era um carro comprido, como alguns acham pelas fotos (ao vivo é bem pequeno), medindo apenas entre os eixos 2.150mm, 3.403mm de comprimento, largura de 1.500mm e altura de 810mm (pesando com combustível o total de 412kg).
O Lotus Mks 8, 9 e 19 eran baseados no Mark 6, mas o Eleven nasceu do nada - era tudo novo. Vinha para substituir o MK9 Le Mans para corridas mais fortes. Em 54 o Chapman já adotava linhas futuristicas ao Mark VIII, o mesmo ocorrendo no Mark IX com motor MG e Coventry Climax (chassis desenhado pelo McIntosh) - o Eleven na sua formação de protótipo tinha tudo para estreiar em 54 (foram inscritos 3 carros em Le Mans), mas por malandragem do Chapman, o Team Lotus foi desqualificado.... O legal do modelo de 56 era que o motor tinha um fácil acesso e o carro pesavo pouco, com um alumínio muito forte (substituiram, também, a caixa de direção do Austin A30, pelo do MGA) - lembrando sempre que em Le Mans o carro pesava 80 kg a menos. O Eleven colocou a Lotus no mundo das corridas - foi devido a essa globalização, que a Lotus foi o que foi, principalmente nos anos 60-70.
O Eleven foi concebido pelo Chapman, mas o desenho final foi feito pelo mestre da aerodinânica da época, o engenheiro Frank Costin. A idéia do Chapman era criar um carro tubular, onde você poderia comprar e colocar vários tipos de motor, para andar em várias categorias (era puro marketing). Tinha a versão top, chamado de Le Mans, equipado com motor Coventry Climax de 1100cc. Mas... outros motores equiparam o Eleven, como o 1172cc da Ford (Sport); o 1200cc e o 1500cc da Climax; até mesmo o 1500cc da Maserati (acreditem se quiser). Bom essa mistura chegou a ter motores de 2 tempos, primeiro o de 1000cc da DKW e depois os fantásticos 750cc e 850cc da SAAB (não que eu queira falar mal do DKW, but... o SAAB era mil vezes melhor). Tinham dois tipos de carroceria aberta (com encosto de cabeça e sem encosto com aletas laterais). Havia, também, uma versão fechada (com gullwing doors), para corridas de 24 Horas na classe GT.
Na verdade foi um carro fantástico para a classe de motores de 1.100cc, fazendo enorme sucesso nas corridas do meio ao final dos anos 50. Um destes Elevens modificado por Costin, com um capota de fibra (tipo bolha), pilotado pelo Stirling Moss, marcou recorde de 230km/h numa volta em Monza. Teve um sucesso realmente marcante em Le Mans e Sebring (uma versão com motor de 759cc, obteve o Index of Performance em Le Mans de 57).
Em 1957, o desenho mudou, assim como a suspensão dianteira, e mudou, também, a transmissão - era chamado de Eleven Serie 2, mas informalmente era chamado pelos pilotos de Lotus 13, porque foram produzidos entre 12 a 14 carros, desta série. Uma curiosidade: o Eleven ditou moda, também, na roda - sim na forma da roda (Wobbly Web Wheel), que influenciou os carros de FJr, F3 e F2 dos anos 60 (aliás, a Fórmula Júnior surgiu por inspiração do Lotus Eleven).
Em 56 não havia carro melhor na categoria de 1100cc e na 1500cc, o Elevem arrebatou metade das corridas. But... depois de uma competição abortada em março, quando a Lotus iria participar de Sebring, Colin voltou para a Inglaterra e começou a ganhar tudo. Teve uma corrida que ficou marcada na história do automobilismo inglês, que foi a epic race - duel at Goodwood, entre os Elevens pilotados por Chapman e Mike Hawthorn...
Foi assim bebes: o negócio estava monótono, porque só dava Lotus Eleven ganhando - chegando ao máximo de ter numa prova 10 Elevens do primeiro ao décimo lugar. Dai o povo da Ilha resolveu torcer para pilotos, e não mais para os carros. Surgindo, assim, a rivalidade entre o Eleven do Team Lotus, pilotado por Colin Chapman e o Eleven da Ecurie Demi Litre de propriedade do Ivor Bueb - a Classe era a de 1500cc (que participavam carros de 1300 a 1500cc). Foi um verdadeiro duelo, onde um passava o outro... um ficou para tras, mas depois alcançou o outro (e vice-versa). Eu não costumo fazer isso, mas vou trazer um texto da AutoSport de 1956 (já que nem todos são felizes proprietários de tal biblia mensal): “The result was racing at its best. Mike Hawthorn and Reg Bicknell (Lotus) were quickest away at the start, but Mike passed Bicknell on the inside at St Mary's to lead, while Chapman lay third for a lap. Then he got going, caught Bicknell on lap two, then whipped past Hawthorn on lap three. Mike tried one side, he tried the other, and on lap four, in the rush down the Lavant Straight to Woodcote, he took Chapman on the inside, the pair now amongst the tail-enders in the race.
“The result was racing at its best. Mike Hawthorn and Reg Bicknell (Lotus) were quickest away at the start, but Mike passed Bicknell on the inside at St Mary's to lead, while Chapman lay third for a lap. Then he got going, caught Bicknell on lap two, then whipped past Hawthorn on lap three. Mike tried one side, he tried the other, and on lap four, in the rush down the Lavant Straight to Woodcote, he took Chapman on the inside, the pair now amongst the tail-enders in the race.
“Lap five, and they whistled past ‘Pathfinder’ Bennett's neat white Fairthorpe-Climax, one to the left, the other to his right, at Fordwater. And at Woodcote Chapman turned the tables on Hawthorn by taking him on the inside. Lap six and Mike repassed ‘outback’ but Chapman swiftly retaliated, and this time his opponent tried to pass on the outside at Woodcote. Lap eight and Hawthorn led. Lap nine and it was Chapman. Lap eleven, Hawthorn, and on lap twelve Chapman again. Just then Reg Bicknell, who had been holding third, dropped out, letting Brabham's Cooper come up, followed by Cliff Allison's Lotus, the leading ‘1,100’. And just then, also, Chapman and Hawthorn executed a joint waltz [they both spun- Ed.] at Madgwick with military precision, contacted briefly, and shot off again.
“Lap fourteen and Chapman led, and Hawthorn slowed, stopped at the pits for a hasty examination of his car, then tore away again... That Hawthorn/Chapman pas de deux at Madgwick broke up the magnificent fight and from then on Chapman was unchallenged, winning at 85.88 mph from Hawthorn, Brabham and Allison, who won the 1,100 cc class. To drive home just how close in performance the duelists were, both shared fastest lap at 88.71 mph—a new class record.”
Depois de Goodwood veio Le Mans onde foram inscritos 3 Lotus Eleven e uma delas ficou em primeiro na Classe e sétimo lugar na geral. Como pilotos do Time encontramos Reg Bicknell e Peter Jopp. Em Monza, um Eleven tinha Stirling Moss e Mac Fraser atrás do volante - resultado: bate o recorde para 1.100cc percorrendo 100km a 135mph de média e tendo a melhor volta registrada a 143mph. Ufa... como diz um amigo meu afetado - fiquei estafado!!! Neste ano o Lotus Eleven ganha - repito - ganha 148 corridas. Corridas importantes, internacionais e algumas meia-boca.
Em 1957 já havia mais de 100 Lotus Eleven, irritando italianos e alemães na Classe. Fez sucesso em Sebring com Joe Sheppard e Colin Chapman no volante. Em maio o editor da AutoSport - Gregor Grant participa da Mille Miglia com uma Eleven preparada pela Lotus (aliás, ele tinha um MG Magnette). Mas... o marcante foram as vitórias em Le Mans - Jay Chamberlain e Mac Fraser ficam em primeiro na Classe 1.100cc, outros Elevens ficam em segundo e quarto e na classe super lightweight 750cc (com motorização do SAAB), pilotado por Cliff Allison e Keith Hall, ganharam o Index of Performance.
Em 58 a Lotus já pensava num novo modelo, para continuar ganhando (neste ano houve a confissão de Chapman de evoluir para a F1). A Lotus já preparava, digo, já chegava ao projeto final da Lotus 17, que surgiria em 59 sussedendo a Eleven (em 63 surgiu o fabuloso - igual em ganhos - com a Lotus 23). O legal é que as Elevens nos anos 60, serviam de carros-escola, para pilotos de FJr, F3, F2 e F1 - só depois de dominarem essa máquina, é que entravam num monoposto.
Há uma curiosidade, além do Chapman pilotando, os pilotos Jay Chamberlain e Mac Fraser depois de uma vitória em Brands Hatch, que veio depois da vitória em Le Mans, foram correr em Rheims - uma semana depois - houve o acidente onde Fraser morre e Chamberlain fica aleijado - Aliás, Herbert Mackay-Fraser foi o primeiro piloto a morrer numa corrida, com um Lotus.
Hoje tem réplicas como o Kokopelli 11, Challenger GTS, Spartak e a melhor das réplicas: Westfield Eleven (ou XI), que usa o motor BMC Serie-A de 1.275cc (motores do MG Midget e Austin-Healey Sprite) - há motores mais fortes como o Kent 1300 e o 1600cc (canhão de 530kg, com o tanque cheio). Essa réplica é muito procurada pelos colecionadores, principalmente para colocar em pista. Ela teve sua produção encerrada em 86 (mas forneceu kits até 88). Em 2004 re-iniciou a produção ainda com motores da Serie A e... em 2010, encerrou de vez a produção do XI (bom... pelo menos é mais barato que um original - este custa de 120 a 190 mil Euros... mas original é original).
Folder que vinha com o carro
Series 2
Series 2
Lotus Eleven 1956
Outra 56
A mesma
Advinhem... outro 56
Idem
Idem
Luis Cezar